junho 20, 2010

La sabiduría me persigue, pero yo soy más rápido

O que faz uma frase do Groucho Marx tão longe de onde partiu? Talvez o mesmo que nós, tão distantes de onde nos encontrávamos ontem à noite. Fomos tomados pelo desejo de conhecer o despertar do sol na Plaza Mayor de Salamanca. Disseram-me que esta frase era daqui e então a noite pareceu-nos mais pequena do que costuma ser. Percorremos os cerca de 600km ainda mais velozes que a inteligência do descanso. Vimos de tudo: a chuva e a sua insistência, o sangue derramado no alcatrão, as estações de serviço vazias, os túneis de Madrid, as colinas de gelo, o cansaço dos olhos; o cansaço dos olhos.
Então a noite que não dormimos é agora este nascer do sol por entre as muralhas que o tempo permitiu. Atravessamos as ruas que saem da Plaza Mayor e entramos dentro da catedral. Não imaginava que tão perto do regresso me fora encontrar com tamanha generosidade - as cúpulas de mármore antigo empurram as imensas colunas que as sustêm e sente-se em tudo isto um silêncio de épocas antigas.

Levo-vos comigo.
E seguimos para Ciudad Rodrigo, porque também o sol nos levou até aqui.
Vamos de sorriso em sorriso até casa…
João Rui

La sabiduría me persigue, pero yo soy más rápido - What is a sentence of Groucho Marx doing so far away from where it left? Perhaps the same as us, so far from where we were last night. We were taken by the desire to see the awakening of the sun on the Plaza Mayor of Salamanca. They told me that this phrase was here and then the night seemed to be smaller than it usually is. We covered the approximately 600km still faster than the intelligence of resting. We saw everything: from the rain and its insistence, the blood spilled on the tarmac, the empty service stations, the long tunnels under Madrid, the hills of ice, the eye’s strain, the eye’s strain. So the night we did not sleep is the sunrise through the walls that time allowed. We crossed the street leaving the Plaza Mayor and entered into the cathedral. I did not imagine that so close to the return I would find out such generosity - the old marble domes push the huge columns which sustain them and one feels in all this the silence of ancient times. I take you with me. We continue to Ciudad Rodrigo, because the sun also brought us here. We move from smile to smile until we reach home... Joao Rui

junho 19, 2010

Segredos de silêncio

O que guardamos dos dias e das noites é o silêncio.
Que outro segredo podia conter todos os outros?


Joao Rui

Secrets of Silence - What we keep from the days and the night is silence. What other secret could keep all the others? Joao Rui

junho 18, 2010

O Mosteiro

No interior do Parque Güell, as folhas das árvores vibram com as vozes das pessoas que se misturam com o grito das aves, envolvidos pelo som dos instrumentos que os viajantes aqui trazem. Um pouco de tudo: de loucura e insensatez. Daqui a dias vamos rever as imagens que os olhos do Marti captaram do Lobo envolto nisto tudo. E o som dos passos dos outros que ficaram na fita vão ser tão diferentes de como os sentimos agora.
Somos protegidos pelas Cabezas Clavas.
Saímos desta confusão para a Sala Monasterio, que tem de aguardar até terminarmos o showcase na Fnac de Barcelona e mais uma entrevista para outra rádio de Valência, para onde os nossos passos nos vão levar amanhã.
Há qualquer coisa de religioso no saber que o Bob Brozman esteve sentado nas cadeiras onde hoje são as nossas preces que as ocupam - qualquer coisa de herança. Qualquer coisa que não sei bem o que é, que não nos deixa cair o sorriso.
Joao Rui

The monastery - Inside the Park Güell, the leaves of the trees vibrate with the voices of those who mingle with the cries of birds, surrounded by the sound of the instruments that travelers bring here. A little of everything: of madness and folly. In a few days we will review the images that the eyes of Marti captured of the Wolf wrapped in all of this. And the sound of the footsteps of others who are on the tape will be so different from how we feel them now. We are protected by the Cabezas Clavas. We leave this mess to the Sala Monasterio, that must wait till we finish the showcase in Fnac of Barcelona and one interview to another radio of Valencia, where our steps will lead us tomorrow. There is something religious in knowing that Bob Brozman was sitting in the chairs that our prayers are now occupying - something of an inheritance. Something that I do not quite know what it is, that holds our smile. Joao Rui

junho 17, 2010

El delito mayor del hombre es haber nacido

No terraço da casa da Helga, um pouco acima dos outros prédios, sente-se o vibrar do sangue que transforma esta cidade; por detrás de cada janela, varanda e coração, pulsam as palavras que transformam o vento que aqui volteja em redor do crime da ausência.
João Rui

El delito mayor del hombre es haber nacido - On the rooftop of the house of Helga, a little above the other buildings, one feels the thrill of the blood that moves this city: behind every window, balcony and heart, the throbbing words that change this wind whirl around the crime of absence. Joao Rui

junho 16, 2010

Bona nit a tot’hom

Por vezes temos a sensação que nos estamos a afastar; pelo menos do mar. Deixámos os monegros para trás. O deserto e o vento e os rios que nos esperavam em zaragoza vieram à saída da cidade para se despedir de nós. Nada podemos senão ofertar-lhes a mesma vénia. Continuamos a afastar-nos do mar. Ou talvez não, porque de onde viemos é para onde vamos. Tantas vezes são as que explico que o som do adufe é o do barco negro. Talvez por isso ele nos espere aqui em Barcelona.
Por fim aqui nos encontramos, diante de outro mar, com novos companheiros de viagem. O Daniel, o Marti, a Elena: levam-nos até à Nudie Jeans Co para um “instore concert” onde já nos esperava o abraço do Jordi, o sorriso da Cristina e de tantos outros que quiseram vir saber desse lobo que vinha do outro mar, num barco negro.
Curioso como de facto não nos estamos a afastar, mas a chegar mais perto; quase à beira do covil.
João Rui

Bona nit a tot’hom - Sometimes we feel that we are moving away; at least from the sea. We left the monegros behind. The desert and the wind and the rivers that awaited us in zaragoza outside the city came to see us off. There’s nothing that we can only offer them but the same bow. We continue to move away from the sea. Or maybe not, because where we come from is to where we go. I’ve tried often to explain that the sound of the adufe is the one from “Barco Negro”. Maybe that's why he awaits us here in Barcelona. Finally here we are in front of another sea, with new travel companions. Daniel, Marti, Elena: they lead us to the Nudie Jeans Co. for an "instore concert", where awaited for us the embrace of Jordi, the smile of Cristina and of so many others who wanted to come to know of this wolf that came from another sea in a black boat. Curious how in fact we are not moving away, but getting closer, almost on the verge of the den. Joao Rui

junho 15, 2010

La ciudad del viento y de los tres rios en medio de los monegros

Ocorreu-me que D. Quixote enlouquecera.
De joelhos, prostrado diante do seu inimigo.
A lançar os sonhos a uma esquadrilha improvável que os vai levar para sempre.
sem movimento
sem movimento
Joao Rui

La ciudad del viento y de los tres rios en medio de los monegros - It occurred to me that D. Quixote had gone mad. On his knees, prostrated before his enemy, throwing dreams to an unlikely squadron that will take them forever. Motionless. Motionless. Joao Rui

junho 14, 2010

El Retiro

Distingue-se cada voz se nela concentrarmos a atenção: como garimpeiro de pés regelados na água de um rio traiçoeiro, separando o ruído do calor dourado que só os olhos sentem. Ainda não consegui sair destes jardins de flores; ainda tento convergir o vento que as acaricia numa única emoção – mas se tantas são as emoções que ali foram plantadas, como escolher apenas uma para levar comigo?
Se a memória estilizada numa fotografia não for o suficiente, estou a olhar tudo como se foram os teus olhos em vez dos meus.
Joao Rui

El Retiro - Every voice differs when on is focusing attention on it: like a gold miner with cold feet in the water of a treacherous river, separating the noise from the golden warmth that only the eyes can feel. I have not been able to go away from these flower gardens, I still try to funnel the wind that caresses them in a single emotion - but if so many are the emotions that were planted here, how to choose just one to take with me? If the memory in a stylized photo is not enough, I am looking all this as if it were your eyes instead of mine. Joao Rui

junho 13, 2010

O Toureiro que era um lobo

Ou escolhemos a verdade ou a mentira.
E se a primeira é um veneno, é porque a segunda lhe é uma amante distraída.
O toureiro sem capa nem espada nem arena nem touro,
imaginou a violência do embate dos corpos.
Guardou daí um sorriso sem lágrimas e não voltou a largar o lobo.
Que seria ele sem a violência que lhe reconquistava o sorriso.
JoaoRui

The Bullfighter that was a wolf - Either we choose the truth or the lie. And if the first is a poison, it’s because the second is her distracted lover. The bullfighter without a cape, without a swords, or an arena or a bull, imagined the violent clash of bodies. Kept a smile without tears from that, and never did let go of the wolf again. What would he be without the violence that recaptured his smile. Neither truth nor lie. Joao Rui

junho 12, 2010

Una terraza bajo la lluvia

É aqui que termina a noite: num terraço à chuva, com os olhos a sobrevoar Madrid.
Tenho que regressar dois andares abaixo para voltar ao principio: antes da Ibone nos apresentar o voo do olhar, antes da
Ariadna Gil nos contar do filme que gravou em Lisboa, antes do Rafa me oferecer um mojito, antes do showcase na Fnac Gavia, antes da viagem acelerada, antes da Fnac Parquesur, antes de sairmos do El Retiro.
Então adiante porque nunca se consegue voltar tanto atrás para se poder levar tudo.
A chuva que continua a ameaçar uma queda eminente, tem-nos sido a sombra dos caminhos que vamos percorrendo. Mas ainda não é a hora.
Ao início da tarde, entrámos num dos maiores parques de Madrid, talvez o maior. El Retiro. Tudo começa debaixo das arcadas de flores por onde caminhámos de guitarra e auto-harp. Sentados junto à fonte que se rodeia de flores de todos os canteiros do mundo, fomos encontrar nestes aromas tão diversos o tanto que faltava para terminar uma nova melodia. Já não nos volta a sair do coração. Perto das seis da tarde, sem memória da manhã, contámos pela primeira vez os nossos seis dias cegos a quem veio saber do silêncio do lobo. E como vieram… alguns que não sabiam qo que vinham, outros que nos ouviram falar ontem dele na
Radio 3. Todos que em silêncio nos permitiram o nosso. Gracias!
Mas o tempo continua contado como ontem, porque o primeiro concerto dista apenas duas horas do segundo e há toda uma logística que não se pode olvidar.
Ainda sem chuva, avançamos mais rápido do que devíamos porque deste tempo que estava contado oferecemo-lo a quem nos veio contar dos seus silêncios.
A diferença de um concerto para o outro está apenas na quantidade de sorrisos que conhecemos, como o da Arantxa, do Rafa, de tantos outros… Bom voltar a encontrar-vos tão longe de onde vos conhecia.
Seguimos felizes, largando a mão dos ponteiros para que o tempo se perca e partimos rumo ao fim da noite; para tudo o que se seguiu antes de subir os dois andares.
Voltamos a subir as escadas.
A chuva perdeu a timidez com que nos seguia e decidiu encontrar-nos aqui: num terraço à chuva, com os olhos a sobrevoar Madrid.
João Rui

Una terraza bajo la lluvia - It is here that the night ends: in a terrace in the rain, with the eyes flying over Madrid. I have to return two floors below to return to the beginning: before the Ibone introduced us to the flight of the eys, before Ariadna Gil told us about the movie she recorded in Lisbon, before Rafa offerd me a mojito, before the showcase at Fnac Gavia, before the quick travel, before Fnac Parquesur, before we left the El Retiro. So move on, because you can never go far back enough to be able to take everything. The rain continues to threaten an imminent demise, she has been in the shadow of the paths we've traveled. But it is not the time yet.By early afternoon, we entered one of the biggest parks in Madrid, perhaps the greatest: El Retiro. Everything starts beneath the arches of flowers where we walked with the guitar and auto-harp. Sitting by the fountain that surrounds itself with flowers of all the world, we found in these scents as diverse that what we needed to finish a new tune. This will no longer flee from our hearts. Close to six in the evening, with no memory of the morning, we told our first six blind days to who came to know the silence of the wolf. And there were those who did not know ... and some others who heard him yesterday on Radio 3. Everyone who silently allowed us to ours. Gracias!
But time is still counted as yesterday, because the first concert is located only two hours from the second and there is a whole logistics that can not be overlooked. Even without rain, we move faster than we should because this time we did not have was offered to those who came to tell us of their silences. The difference in a concert to the other is just the number of smiles we know, such as Arantxa of Rafa, many others ... Good to meet you here, so far from where I knew you. We follow happily, dropping the hand of the pointers of time and we begin moving towards the end of the night, for everything that went before we climbed the two floors. We go back up the stairs. The rain has lost the timidity with which it followed us and decided to find us here: in a terrace in the rain, with the eyes flying over Madrid. Joao Rui

junho 11, 2010

A Este tudo novo - España.

A noite parece mais comprida, mas talvez seja mesmo assim.
Do covil ao destino vão cerca de 600 km.
Partimos junto ao crepúsculo.
Vamos às primeiras datas em España. Tão perto e no entanto, tem estado tão longe. Agora deve ser a hora. Começamos por onde tudo começa: pelo coração: Madrid. À Medida que a estrada se vai insinuando nestas planícies, tudo o que está para trás fica mais perto; e se para o coração partimos, do que já levamos não há separação.
Chegamos ao despontar do dia, com o sol ainda mais rápido que a chuva, a cair nos telhados da cidade. Magníficos edifícios ladeiam a nossa passagem.
Mas o tempo está contado ao minuto e não é hora de nos perdermos na paisagem. Mais tarde. Mais tarde.
Em breves instantes temos o carro da Radio Television de España em frente ao nosso hotel para nos levar aos estúdios da Radio 3. Vamos na companhia da Elena da Grocdog, ouvindo as histórias da cidade. Tudo breve e sem tempo. Em poucos minutos entramos no complexo da TVE e lançamos o lobo aos microfones no programa “Hoy Empieza Todo”. Obrigado Angel Carmona e José. Foi sem dúvida uma das mais bem trabalhadas e divertidas entrevistas de todos estes anos. Se não me falha a memória, foram os primeiros a ilustrar a escolha do nosso nome com a música que lhe deu a origem. Magnífico. Em casa, outro Grocdog acompanhava os passos do lobo. Obrigado Daniel.
Depois foi tudo ainda mais rápido. De novo noutra viatura da TVE regressamos ao hotel. Estranha forma de condução, esta em que os condutores precipitam as viaturas para diante das outras com a esperança de sair incólumes no acto… curioso.
Manual de iniciação (España): Ainda é cedo para regressar aos conselhos providenciais, tendo em conta que estes têm surgido após contacto com as forças da autoridade, mas porventura será já tempo de colocar o manual sobre a mesa: Se vos dirigis a Espanã, aconselho a que se aventurem ao centro da cidade, no entanto, se o fizerem com uma viatura, atentai na cor dos traços de estacionamento: tudo o que não for ausência de tinta é pago. E bem pago. E patrulhado por nem mais nem menos que os diligentes Polícias Municipais. Claro que há que encarar com um sorriso multas que possam surgir durante as festividades, no entanto estas relativas forças da autoridade utilizam pequenas máquinas para passar as multas. Viva a tecnologia! Mas tudo tem um preço, portanto não se esqueçam que a recompensa da tecnologia torna este percalço cerca de 3 vezes menos barato do que em terras do mar.
Talvez eu já tenha demasiada informação.
Ou demasiado detalhada.
Talvez o porta luvas já saiba demais...
(Bandidos)
João Rui

To East all is new – España: The night seems longer, but maybe it really is this way. Our destiny is about 600km from the Den. We leave by twilight. We’re going for the first dates in Spain. So close and yet, has been so far. Now should be the time. We start where it all begins: at the heart, Madrid. As the road keeps insinuating through these plains, everything that we leave behind is closer, and if to the heart we part, of what we take there is no separation. We arrived at the dawn of day, with the sun faster than the rain, falling on the roofs of the city. Magnificent buildings lining our route. But time is counted by the minute and we do not have the time to get lost in the landscape. Later. Later. In a moment we have the car of Radio Television of Spain in front of our hotel to take us to the studios of Radio 3. We move along in the company of Elena from Grocdog, hearing the stories of the city. All short and without time. Within minutes we entered the complex of TVE and released the wolf to the microphones in the "Hoy Empieza Todo." Thank you Jose and Angel Carmona. It was without a doubt one of the most elaborated and fun interviews of all these years. If memory serves me right, you were the first to illustrate the choice of our name with the music that gave its origin. Magnificent. At home, another Grocdog followed in the footsteps of the wolf. Thanks Daniel. After, everything was even faster. Again in another car of TVE back to the hotel. Strange way of driving this, when drivers throw the the cars before the others with the hope of getting out unscathed in the act ... funny. Manual of initiation (España): It is too early to return to these advices, bearing in mind that these have arisen after contact with the forces of authority, but perhaps the time has come to put the manual on the table: If you move to Espanã, we advise you to venture into the city center, however, if you do so with a car, look out for the color of traces of parking: everything that is not the absence of ink is paid. And well paid. And patrolled by the no less than the diligent Municipal Police. Of course that fines that may arise during the festivities must be received with a smile, but however, these relative law enforcement use small machines to pass the fines. Viva technology! But everything has a price, so do not forget that the reward of technology makes this mishap about 3 times less expensive than in the land of the sea. Maybe I already have too much information. Or too detailed. Maybe the glove compartment already knows too much ... (Bandits). Joao Rui