Ainda não conhecia a chuva de Itália. Conheço-a agora ao ouvir as grossas bátegas que se quebram no telhado do Ca’ Magre Live. O dia inteiro foi assim: de céu cerrado e de diversos tons de cinza – só não conhecemos ainda o sol porque as nuvens não o permitem. Foi assim que chegámos a Verona durante a tarde: de pés irrequietos sob uma chuva que não parou sequer para respirar. Aqui todas as pontes que unem ambas as faces do rio atravessam-no para encontrar a Giulietta. A rua é igual a todas as outras, a arcada que a separa da casa também não é diferente e a varanda é o ainda menos (se aqui os nossos passos nos conduziram foi coincidência e nada mais)
Mas o passo é diferente quando a calçada conhece o coração que se enternece nestes dilúvios. Deixo-me cair num dos bancos de mármore que ladeiam a arcada e o corpo mistura-se com as centenas de notas de amor que prenderam nas paredes em papéis de todas as formas. Fico o suficiente para observar como coisa simples como o vento afugente este trágico bando de pássaros que procuram aqui esperança de abrigo. E a cada investida do vento, mais uma mensagem de amor (ou coisa parecida) rodopia até desaparecer nas ruas de Verona.
Seguimos para diante e cortamos à esquerda no encalço de chuva até chegar às portas da igreja de S. Anastasia… meu Deus… se o meu coração não for suficiente para albergar tamanha beleza, dá-me privilégio de outro que o que me resta é falta de espaço para tudo o que não queria esquecer. Nem descrevo, nem palavras. Mudo. Desta vez, o corpo foi entregue às antigas portas de madeira pela qual os séculos passaram com alguma misericórdia.
Mas antes que a violência da chuva nos volte a embalar até ao sonho, obrigado Alessandro e Fabrizzio. O Lobo não poderia ter encontrado melhor companhia do que todas as pessoas que hoje vieram celebrar o final de um dia tão cinzento.
(gostava tanto de poder pendurar os meus olhos numa destas torres e seguir o resto do caminho cego...)