De novo no Porto. As ruas parecem-me mais familiares – as estradas apertadas contra os prédios como se fora contra a vontade destes e só aos pés fosse permitido caminhar entre eles. O Breyner 85 é uma casa antiga com um tecto a perder de vista e um piano ao canta da sala à espera… à espera… os pianos parecem estar sempre à espera… são irmãos pacientes. Julgo que já aqui estive, que conheço a madeira das portas e ela soubesse os meus segredos. Os corredores tornam-se mais estreitos como se me quisessem devolver aos segredos. E crescem degraus de cada vez que subo as escadas, ou são os pés que ficam mais pesados de reencontrar passos antigos e gestos que não são de agora. Há qualquer coisa particularmente comovente nas casas antigas. E nunca é acerca do presente, é sempre sobre o passado. Então quando passo a entrada é como encontrar a minha vida inteira. A minha mãe falou-me do responso de Stº António; falou-me também que coisa perdida que atravesse água já o responso perde a autoridade. Quando atravesso um rio, lembro-me disto e que provavelmente aqui perdi alguma coisa, ou então que foi na outra margem – volto sempre uns metros atrás na ponte e olho as margens à procura de passos da coisa perdida. Mas nada… ainda não a encontrei, nem ela a mim.
JoaoRui
Again in Oporto. The streets seem more familiar to me - the roads pressed against the buildings as if it were against their will and only feet could walk between them.Breyner 85 is an old house with an out of sight roof and a piano in the corner of the room waiting ... waiting ... pianos always seem to be waiting ... they are patients brothers. I think that I’ve already been here, that I know the wood of the doors and she knows my secrets.The hallways become tighter as if they wanted to return me to the secrets. And each time I climb the stairs the steps seem to grow, or maybe the feet become heavier rediscovering old steps and gestures that are not of today. There is something particularly poignant in old houses. And it is never about the present, it’s always about the past. So when I cross the entry it’s like finding my whole life. My mother told me of the prayer of St. Antonio; she also told me that the lost thing that goes over the water, the prayer loses its authority. Whenever I cross a river, I remember this and that I probably lost something here, or maybe it was on the other side – So I walk back a few yards over the bridge and look at banks of the river looking for the steps of the lost thing. But nothing ... Nor I have found her, nor she has found me.
JoaoRui