agosto 17, 2009

"Hi, This is For You"

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© Marie van Vollenhoven 2009
O silêncio ou pelo menos parte dele, é boa companhia nos abismos insondáveis da solidão. E há um certo vagar, um certo encanto que só a si pertence – e também – por vezes, nessa sensatez. Se foi o torpor que manietou a tinta durante todos estes dias, então é dele que agora regressamos. Mas ausência não é imobilidade, é certeza de desconhecimento dos filamentos dos segredos. Este hiato junto à porta aberta apressadamente da câmara escura onde vamos revelando cada uma das voltas da agulha com que urdimos as vestes do lobo, terminou agora. Vamos soltar as rédeas do incêndio… como os pirilampos à porta da casa azul. Há tantos anos que não me visitavam estes estilhaços de vida incandescente.
Há tantos anos que me visita esta saudade de não sei bem o quê.
“Tanto quanto sei, vou viver para sempre” dizia ele encostado à porta de saída – como quem aprecia a ironia do tempo perdido; como quem sabe que este pouco tempo que resta é mel de pólen de flores colhidas antes de época – e nisto a imortalidade nada mais que cerra os olhos à nossa condição: somos pó de estrada que mal tempo tem para se habituar aos calcanhares do tempo.
Talvez seja a saudade de não saber mais, ou demais.
Depois de insuflar a casa azul de nova cor, conseguimos condensar uma mão cheia de metáforas numa única divisão: o Pedro atrás de uma lente, sob o olhar atento da Sofia, com o Carlos de tesoura e sorriso em punho criaram os bastidores daquilo que também se chama o vídeo do Red Pony – mas agora adianto-me em demasia, pois isto terá o seu lugar – mas mais adiante.
Então adiante.
Há sempre mais uma história para contar, sobretudo para quem as gosta de guardar: em meados do mês passado, num jardim do qual não sei o nome, perto do museu de história natural, eu e o Jorri, sentados à mesa, mostrávamos pela primeira vez à Sofia a versão final do novo vídeo quando subitamente uma pessoa abordou a nossa mesa. Quase em silêncio, entregou-nos um desenho acompanhado de menos palavras que emoção “hi, this is for you” e eu que abomino o tráfego das grandes cidades, encontrei aqui recompensadas as três passagens em volta do marquês para ali chegar. Só passados dias, talvez semanas, em que o Jorri teve este desenho guardado dentro de um livro é que vi a morada escrita no canto do desenho http://dailydrawing.nl/ . Então, a pessoa do qual havíamos guardado apenas vaga memória de feições tem agora um nome e uma história contada em desenhos e tinta. Outra tinta. Obrigado Marie.
Agora que os pirilampos são tantos que se amassam contra a porta da casa azul, a estrada ganha de novo contornos lúcidos. Vamos regressar aos calcanhares que aqui não se quedam. Ali, à beira da curva, já nos espera o Lobo, que nesta próxima investida nos acompanhará a uma serra próxima. É território dele. É território nosso.
Joao Rui

“When they thought I was running away, I was merely gathering speed, my friend”

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