Éramos quatro amigos impelidos por uma despedida iminente. O conta-quilómetros do carro onde seguíamos assinalava mais um passo ao encontro desse momento. Ora permanecíamos dentro de nós olhando silenciosamente uma película vazia através da janela, ora saltávamos à vista depois de uma gargalhada. Estávamos à espera de um único momento que estava prestes a chegar.
Chegados ao ponto onde o caminho se bifurca senti que tudo se precipitava. Estava a ser demasiado rápido. Queria ter olhado para eles, memorizado as expressões das suas caras para guardá-las carinhosamente. Contudo, embora já não houvesse o conta-quilómetros a denunciar a proximidade do momento, havia os ponteiros de um relógio que não se quedavam. Depois era o tal turbilhão de sentimentos que acossavam o coração. Os meus amigos iam partir. Eu era a única que ia ficar. Temia o que vinha a seguir, quando eles não estivessem ao meu lado.
Já eles tinham atravessado para o outro lado do vidro e eu ainda tentava ver até ao último detalhe da silhueta do lobo. Dei conta que tinha um risco translúcido que percorria a parte esquerda da minha cara. Enquanto o apagava com as costas da mão, tentava descortinar se estava triste ou alegre. Queria decidir imediatamente. A minha face direita ficara intocada pela despedida.
Eles desapareceram do outro lado do vidro e eu tinha agora que lidar com uma nova soma de sentimentos. Permiti corajosamente que cada um me inundasse. Entrei dentro do mesmo carro azul que nos havia reunido. Ao meu lado estava uma melódica, uma mala com uns anjos inscritos e outra que não quis abrir. Ao contrário de mim, estarão outra vez com eles daqui a dois dias. O carro era agora um local de solidão e esperava-me uma viagem ao ponto de partida. Aqui vou permanecer e aguardar notícias do outro lado do vidro. A última vez que os vi sorriam para mim. E no entretanto, cada vez que lembro isso, sorrio de volta.
Daniela Côrtes Maduro