Finalmente avistamos terra: chamava-nos de estibordo - sim, porque bombordo é o espaço onde respira o coração: e esse vive sempre voltado para o mar e de costas para a certeza.
Regressamos de mãos cansadas e pés amarrotados; cabelo desgrenhado e impregnado do sabor do sal. E olhos... Olhos de quem viu demais...
Durante este tempo todo não foi o barco que balouçou perdido; eu soube-o ao ouvir o frémito da areia quando nos aproximámos e ao sentir como ela se contorceu em convulsão, quando a quilha fendeu os grãos mais delicados. Foi neste momento, com a violência do embate, que fomos os três projectados para o fundo da embarcação.
Que fundo? Que embarcação? Foi tudo isto um sonho?
Será o silêncio da maré que se torna a encolher debaixo da pele? Esperará ela nova companhia?
Um dia, quando eu me esquecer disto tudo; quando o tempo tiver outra vez moldado o tumulto da minha respiração; quando estas visões se desvanecerem nas rugas dos meus dedos e eu me tornar um estranho em frente ao meu espelho... Então terei regressado aos braços do meu olhar submerso. Mas por ora, enquanto o pulsar de cada nota for mais audível que o som do sangue a quebrar contra a muralha do meu peito, sou uno com cada uma delas.
Estas músicas são filhas e mães de emoções: algumas têm a idade do meu coração e outras, que têm a idade das fendas dele.
"When I go away, you'll come back for more"
Regressamos de mãos cansadas e pés amarrotados; cabelo desgrenhado e impregnado do sabor do sal. E olhos... Olhos de quem viu demais...
Durante este tempo todo não foi o barco que balouçou perdido; eu soube-o ao ouvir o frémito da areia quando nos aproximámos e ao sentir como ela se contorceu em convulsão, quando a quilha fendeu os grãos mais delicados. Foi neste momento, com a violência do embate, que fomos os três projectados para o fundo da embarcação.
Que fundo? Que embarcação? Foi tudo isto um sonho?
Será o silêncio da maré que se torna a encolher debaixo da pele? Esperará ela nova companhia?
Um dia, quando eu me esquecer disto tudo; quando o tempo tiver outra vez moldado o tumulto da minha respiração; quando estas visões se desvanecerem nas rugas dos meus dedos e eu me tornar um estranho em frente ao meu espelho... Então terei regressado aos braços do meu olhar submerso. Mas por ora, enquanto o pulsar de cada nota for mais audível que o som do sangue a quebrar contra a muralha do meu peito, sou uno com cada uma delas.
Estas músicas são filhas e mães de emoções: algumas têm a idade do meu coração e outras, que têm a idade das fendas dele.
"When I go away, you'll come back for more"
JoaoRui
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/5 days adrift/ Day 5: The silence of the tide
At last, Lad Ho: it was calling from starboard – yes, because port is the space where the heart breathes: and he lives always turned to the sea, and with his back to certainty.
We return with tired hands and crumpled feet; the hair in a twirl and impregnated with the taste of salt. And eyes… Eyes of who saw too much…
During all this time, it was not the boat that was swinging; I found it hearing the shiver of the sand when we approached and seeing the way she convulsed when the keel split her smoothest grains apart. It was at this time, with the violence of the crash, that the three of us were projected to the bottom of the ship.
What bottom? What vessel? Was this but a dream?
Is it the silence of the tide, again shrinking beneath the skin? Is she waiting new company?
One day, when I forget all of this; when time has shaped the tumult of my breathing once again; when these visions have vanished in the wrinkles of my fingers and I turned into a stranger in front of my mirror… Then I will have returned to the arms of my submerged stare.
But for now, whilst the pulsation of each note is more audible then the sound of my blood crashing against the wall of my chest, I am at one with each one of them.
These songs are mothers and daughters of emotions: some are as old as my heart and others are as old as its cracks.
When I go away, you'll come back for more"