janeiro 19, 2010

Crónicas de Glasgow #2

© Sofia Silva, November 4th, da série Exaurir, 2009



© Sofia Silva, November 5th, da série Exaurir, 2009


Ouve-se que em Portugal um ano novo começou, mas neste lugar frio tudo custa mais a arrancar…

Volto e vou deslizando no gelo à espera do cenário certo, da luz suficiente, de um espaço que seja também um pouco meu ou a que eu consiga, pelo menos, chegar. Uma vez mais, os sonhos permitem encher os dias de esperança. Nos últimos tempos confesso que a família tem tomado conta da imaginação, suponho que resultado de andar a conviver com os álbuns de família. Acontece que as memórias que nunca existiram se começam agora a construir, com a liberdade de quem assegura conhecer os personagens e lhes dá espaço.

Muito disto é saudade, mas acrescento que muito deste espaço onírico é aliado de uma procura angustiante por uma ideia de uma fotografia, uma ideia de um projecto, uma ideia de algo que possa extravasar as minhas barreiras, traduzir o corpo da minha carne e falar por mim.

Se muita coisa acontece quando laureamos o trabalho para fora do país, uma delas é a certeza de que há trilho mais além. Se o que levamos na mala vale, o que podemos acrescentar também, mas nada será mais precioso que a ideia de uma bagagem ausente que possamos inventar.
Sofia Silva
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I hear a new year started in Portugal, still in this cold place everything seems harder to initiate…

I return and get sliding above the ice waiting for the right scenery, for enough light, for some sort of space I can call my own or where I can at least arrive. Once again, dreams allow me to fill the days with hope. These last days family took over my imagination, probably as a result of being around family albums. It so happens that inexistent memories begin to have some shape, with the same freedom one gives to the character one trusts and recognizes so well.

Much of this is saudade, though I add that a lot of this oneiric space is an ally of an anguish demand for an idea, for a photograph, for a project, something that could go beyond my own boundaries and translate the body my flesh is made of and speak for me.

If a lot happens when we take our work abroad, one thing is for sure the reiteration that there’s a path to walk beyond. If what we carry in our baggage is worth it, so will be whatever we can add to it, still nothing will be more precious than the idea of an absent luggage we might come up with.
Sofia Silva