Prometi silêncio para me perder por entre os destroços da memória. E para onde quer que me voltasse, tudo em volta era escuridão. Mergulhei em abismos de águas tão negras e tão turvas de tão límpidas. Ali me demorei em silêncio porque o tempo não perdoa a passagem desatenta nos labirintos da memória. E jurei não regressar enquanto as palavras escritas em folhas desalinhadas não houvessem encontrado lugar na nossa embarcação.
Havia então chegado a hora de nos recolhermos à casa azul, para retornar ao coração que vimos adiando há tantas horas.
Escolhemos mais uma vez o Inverno para esta demanda – talvez seja do frio lá fora ser tão intenso, a razão de não nos apercebemos deste que nos percorre em silêncio. Aquele que vos olha de quando em vez por entre as fissuras do coração e que vos sussurra “onde te perdeste?”.
Então em verdade não estamos a regressar de três meses de silêncio profundo, mas de quase dois anos de um certo silêncio. Agora que as canções estão completas, resta-nos a alquimia de as entregar ao magnetismo da fita.
Partimos então da casa azul com todos os instrumentos que fomos guardando, rumo às encostas ainda mais frias de Portalegre onde nos esperava o João P. Miranda, o timoneiro desta ventura.
Ainda não é hora de revelar nem o nome nem o corpo deste álbum, mas daqui vos escreveremos do passar dos dias em que vamos contando estes segredos numa sala vazia.
João Rui
Havia então chegado a hora de nos recolhermos à casa azul, para retornar ao coração que vimos adiando há tantas horas.
Escolhemos mais uma vez o Inverno para esta demanda – talvez seja do frio lá fora ser tão intenso, a razão de não nos apercebemos deste que nos percorre em silêncio. Aquele que vos olha de quando em vez por entre as fissuras do coração e que vos sussurra “onde te perdeste?”.
Então em verdade não estamos a regressar de três meses de silêncio profundo, mas de quase dois anos de um certo silêncio. Agora que as canções estão completas, resta-nos a alquimia de as entregar ao magnetismo da fita.
Partimos então da casa azul com todos os instrumentos que fomos guardando, rumo às encostas ainda mais frias de Portalegre onde nos esperava o João P. Miranda, o timoneiro desta ventura.
Ainda não é hora de revelar nem o nome nem o corpo deste álbum, mas daqui vos escreveremos do passar dos dias em que vamos contando estes segredos numa sala vazia.
João Rui
Three months of silence - I promised silence to lose myself in amidst the ruins of memory. And wherever I turned, everything around was darkness. I plunged into the abyss of black waters so murky of their clarity. There I stood in silence, for time does not forgive the careless wander in the labyrinths of the memory. And I swore not to return while the words written in misaligned sheets had not found place in our boat. It was time; the hour of retiring to the Blue House, to return to the long due heart. Again we chose the winter for this venture - perhaps it's intensity of the cold outside, the reason why we do not realize of this other that flows through us. The one who looks at you from time to time through the cracks of your heart and whispers "where have you lost yourself?". So in fact we're not coming back from three months of deep silence, but from almost two years of a certain silence. Now that the songs are complete, we are left with the alchemy of committing them to the magnetism of the tape. Thus we left the Blue House with all the instruments we kept, towards the colder slopes of Portalegre, where we took João P. Miranda, the helmsman of this venture waited. It is not time to reveal neither the name nor the body of this album, but here we will tell you of the days we spent telling secrets in an empty room. João Rui