dezembro 26, 2008

It's HO so quiet!

Já passa da meia-noite e já não é dia 25. Desde que cheguei naquela noite de Inverno as coisas nunca mais voltaram à normalidade. Esta nunca me encantou, só que agora deixa um sabor acre na boca. Quando ela coloca a mão no meu ombro e segreda ao meu ouvido palavras sensatas sei que chegou a minha hora.

Sinto falta da condução do Johnny, que nos empurrava aos cinco, a cada curva, uns contra os outros. Amparávamo-nos mutuamente, sabendo que se alguém abandonasse o seu lugar estávamos em apuros. Era uma união atribulada, mas poderosa. O caos parecia reinar, mas as caixas onde um dia tinha existido um Jackie estavam criteriosamente empilhadas na banca da cozinha. No bengaleiro, os nossos casacos juntavam-se numa só silhueta.

A mesa da sala de jantar estava repleta de slides que ansiavam percorrer languidamente as cordas de uma guitarra. As harmónicas não conseguiam encontrar um sentido para a sua vida. Laptops escancarados esperavam segredos que pudessem revelar, quer no blog, quer no ecrã de alguns saudosos destinatários. O pão e vinho sobre a mesa (tal como o Jorri lembrou), não faltavam nos nossos serões. Pedaços da nossa vida eram espalhados nela: o verniz e a acetona, o livro em inglês, os guizos, o caderno de músicas, o pacote de batatas fritas, a chávena de chá ou de café, os cigarros a fumegar nas ranhuras de um cinzeiro, os xilofones ou o glockenspiel. As chaves do carro e telemóveis eram dispostos em cima da mesa, assim que chegávamos a casa. Estes eram sinais de um exterior adiado.

Quando alguém arrastava uma cadeira para se sentar à mesa, todos respondiam ao chamamento. Os dedos de conversa começavam a dedilhar a vida de todos nós. O jantar era preparado por quem primeiro se descuidasse, mostrando a intenção de abandonar esta assembleia. Degustávamos a refeição ao compasso das histórias contadas. E da fome, está claro. Seguia-se a preparação do dia seguinte. A conversa resvalava para os acordes e a música erguia-se como senhora de todos nós.

No fim de contas, o nosso mundo tinha uma certa ordem. De manhã tocavam despertadores em uníssono. E os a Jigsaw lá iam aparecendo na sala, um a um, empunhando o manípulo da máquina de café. Bocejos preenchiam o silêncio e a pouco e pouco despontava a boa disposição. As horas eram nossas. Na verdade, creio que deixaram de existir. Recordo tudo através de momentos. O momento em que acordávamos e os olhos ensonados se cruzavam; o momento em que o cenário de pijamas dava lugar ao dos jeans; o momento em que as torradas faziam piruetas no ar e a manteiga as enternecia; o momento em que entrávamos no estúdio e toda a gente se distribuía de acordo com as suas funções; o momento em que o Miro dizia “mais feeling” torcendo o nariz; o momento em que o Johnny ripostava com um “PUSSY GIRL” cheio de energia e nos envolvia em mais uma das suas narrativas; o momento em que o Jorri nos levava a lanchar e esboçava um sorriso de orgulho; o momento em que a Susana se enchia de coragem e nos amolecia o coração; o momento em que a Ni chegava com um abraço e um punhado de mimo; o momento em que a Sofia rasgava o cenário plantando raízes para levar; o momento em que parava para olhar todos eles.

Foi um prazer, estimados senhores e senhoras. Com a normalidade veio uma Noite de Natal e o silêncio. Estou acompanhada de um copinho de jeropiga, de uns bolinhos de abóbora e da lareira friorenta. As prendas, o carinho e o amor foram trocados. A minha família está agora a recuperar destes excessos de Natal. Já não são horas natalícias, mas esta é a minha prenda para vocês. It’s HO HO HO so quiet…. SHHHHH shhhhh

Daniela Côrtes Maduro

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Midnight it’s over. It’s no longer the 25th of December. Since I arrived there in a winter’s night things never went back to normal. Normality has never made an impression on me, but now she leaves a bad taste in my mouth. Every time she puts her hand on my shoulder and whispers wise words to me I know my time has come.

I miss Johnny’s driving skills. He used to make us five hang on to each other at every curve. If any of us left, we were sure to be in trouble. It was a tribulated union, but also a powerful one. Chaos seemed to be the ruler, but the boxes, where Jackie once lived were all neatly disposed over the kitchen’s table. Our coats were hanged in order to form a single silhouette.

The kitchen’s table was filled with slides which were dying to languidly slide down the guitar’s strings. The harmonicas could not find a meaning to their lives. Laptops were wide open, waiting for secrets to reveal, to the blog or to longing addressees. There was always bread and wine over the table (as Jorri once said), they never missed our evenings. There were pieces of our lives over the table: the nail polish and nail polish remover; the book written in English; the tiny bells; the music lyrics; the crisps’ bag; the tea or coffee mug; the cigars whose smoke curled out from the ash-trays, the xylophones and the glockenspiel. The car keys and the cell-phones were left over the table as soon as we arrived home. They were signs of a delayed exterior.

When anyone grabbed a chair, everybody would answer the call. Our life would be as strings played by our words. Dinner would be cooked by the first one of us who deserted this assembly. We savored our meal to the beat of the stories being told (as well as to the beat of our hunger). After this there was a preparation for our next day. The conversation gave place to chords and music was turned into our lady.

Our world had some kind of order after all. Each alarm-clock rang at the same time, on every morning. Each one of the a Jigsaws turned up in the kitchen with a coffee machine handle as if it were a sword. Yawns interrupted the silence and everybody was gradually in a much better mood. There were no hours. In fact, there were only moments. The moments we woke up and our sleepy eyes crossed; the moments the pijamas’ scenery gave place to the jeans’ scenery; the moments the toasts popped and were smoothed by butter; the moments we arrived to the studio and everybody were back in their places; the moments Miro asked for “more feeling”; the moments Johnny answered back with a “pussy cat” filled with energy and came up with another story to tell; the moments Jorri invited us to a break and smiled with proud; the moments Susana gathered courage and made our hearts melt; the moments Ni would arrive bringing a hug and a handful of sweetness; the moments Sofia would tear the scenery down and plant some roots to take with her; the moments I looked at all of these people.

It was a pleasure, ladies and gentlemen. Normality was followed by a Christmas Night and by silence. By my side there is wine, pumpkin cookies and a fireplace trembling with cold. Presents, sweetness and love were cherished. My family is now recovering from Christmas excesses. We are no longer under Christmas schedule, but this is my gift to you.