outubro 29, 2011

"DRUNKEN SAILORS & HAPPY PIRATES" por ALFRED CRESPO (RUTA 66)

Dia 1 de Novembro ... 

 Nas palavras de Alfred Crespo, que aqui apresenta "Drunken Sailors & Happy Pirates" 

 "DRUNKEN SAILORS & HAPPY PIRATES" 

 La espera ha terminado, y surcando metafóricas aguas regresan unos marineros que parecen cómodos viajando sin cesar. No parecen preocupados por perder de vista sus orígenes, ni por la ausencia de tierra firme bajo sus pies. Quizás porque están seguros de que su destino les conduce a sí mismos, quizás porque su verdad, su música, es de aquí y es de ninguna parte. Rotos los lazos, cortadas las amarras, la libertad es más timón que meta. Si Like The Wolf les situó en el punto de mira de catadores selectos y sus conciertos les granjearon una creciente legión de admiradores, esta nueva colección de canciones debería hacer el resto, aportar ese enigmático valor añadido que diferencia a las referencias de las simples promesas. Empezaron embarcados en Letters From The Boatman, y su breve pero reflexionada travesía les muestra infinitamente más maduros, sabios como viejos lobos de mar, atentos como timoneles sin resaca, satisfechos como felices piratas.  La expresiva voz de Joao Rui, las melancólicas notas aportadas por Susana Ribeiro y las imprevisibles aportaciones del juguetón Jorri avisan desde los primeros compases de “The Strangest Friend”: quien suba a su nave no querrá bajar de ella. Encadenan aciertos, sensibles por momentos (“Crow Covered Tree”), carnales (“Lovely Vessel”), inesperados (¿puede un buque llegar a ese Berlin al que cantó Lou Reed?, escuchen “I’ve Been Away For So Long”), definitivamente evocadores (“Devil On My Trail”). 
Al parecer, son de Portugal. Puede ser. O pueden estar jugando al escondite, a proporcionarnos sólo las piezas del puzle que quieren que veamos. Tengan la certeza de que, mientras se escucha su álbum, ellos ya están viajando hacia un nuevo caladero. 
 No es extraño que Tom Waits se haya rendido a su hipnótico encanto. 

 Alfred Crespo (Director de la revista Ruta 66)

outubro 04, 2011

Vila... é tinto e depois


Gerimos todos vidas paralelas. Aqueles dados às chamadas redes sociais gerem uma série de vidas virtuais, mas na prática, quem viver aquilo que o tempo biológico permitir fazer, acaba a gingar por entre as vidas dos amigos, a da família e do(s) amante(s). No centro deste baile está a pessoa singular, essa a trocar de par por entre os seus outros milhares de Eus.

Primeiro com o Freud, depois com o Lacan, a humanidade pôde aprender que nomes chamar a estes duplos que nos assombram e aos outros que tomam conta de nós. Por muito inoportuno que pareça neste contexto a palavra Autenticidade, tão presa ao lugar do Imaginário, tão presa ao Id, aplica-se aqui à minha relação com os Jigsaw, e à relação deles com a sua forma de expressão A maior parte das vezes não pelo que está, mas pelo que pôde haver, porque se foi.

Não precisa este albúm de ser ouvido para que se perceba que a Morte tem estado sempre no foro das histórias dos a Jigsaw. A morte, a par com a esperança. Vejo-as sempre na boca do João Rui como metáforas dos pequenos elogios fúnebres, quando deixamos escapar um de nós, quando cedemos demais e nos apagamos. No clímax, quando nos entregamos e mergulhamos à procura de alguém.


Enquanto fotógrafa digo que passamos anos à procura do momento em que consigamos estar e ver e depois olhar. Claro, depois carregar no botão. Claro, depois comunicar. Mas no plano de trabalho não está nunca a Ideia e está sempre a contemplação da surpresa. Venho aqui apenas para justificar isto: que levou tempo, mas agora cheguei a vós! Ao momento que é ao mesmo tempo particular que universal. É, pode ser ou será, mas eu julgo que seja.

Sofia Silva 
all photos © Sofia Silva, 2011

Nada disso é gente e eu gosto de estar com gente (falo de corpos), um enchimento de gente à roda, compacta, onde recebemos e damos, estamos e lutamos, sofremos em comum e gozamos. Onde tudo de nós é ampliado, revigorado, e medido pelo colectivo, pelos outros - espelho e limite, cadeia e espaço imenso, liberdade e nossa conquista.

Luiz Pacheco, A Comunidade

outubro 01, 2011

"Strange enough", ela não é a nossa melhor amiga


Hoje, dia 1 de Outubro, celebra-se o dia da Música um pouco por todo o espaço público e dentro daqueles a quem ocorrer lembrar-se de tal celebração. É certo que a música nos acompanha, nos empurra, nos segura e adormece, mas ela não é a nossa melhor amiga. Porque as palavras pesam e as memórias se associam, Ela se entrega e se nos oferece, deixando que a escolhamos ao sabor dos nossos mais obstinados momentos. E se Ela nos mima e nos complementa em demasia, cabe ao Silêncio o lugar de nosso melhor amigo. É este o “strangest friend” de que falam os a Jigsaw no single de apresentação do novo álbum “Drunken Sailors & Happy Pirates”.


E é na comunhão deste estranho amigo que nos temos vindo a conhecer, a esquecer e a redescobrir. Sabendo que se as palavras falham temos de as deixar. E fartos do barulho não podemos deixar de nos entregar ao silêncio, à espera que Ele nos diga o tanto que sabe de nós.



Apesar de ser também hoje o dia de lançamento de “The Strangest Friend”, foi ontem que esta celebração conjunta começou. Depois de muitas horas de trabalho, muitas viagens, muitas emoções sem pátria e vozes sem linguagem, o João Rui, o Jorri e a Susana Ribeiro fazem agora o que de melhor sabem ser capazes: dão-nos música! E sim, que seja subentendido: dão-nos as melodias e as baladas que nos rejuvenescem o coração, mas também nos atiram para um labirinto de onde não sabemos sair, ludibriando-nos com palavras que de tão melancólicas, simbólicas, autênticas e pessoais, apenas vemos caminhar à nossa frente. 


Mas deixemos o corpo do álbum para depois... Dizia eu que a celebração tinha tido início ontem com a gravação do videoclip do single. Um dia passado numa casa em que o silêncio se fez ouvir sob a forma uma luz imponente que nos visitou. Pelas mãos do realizador António Ferreira essa luz foi desconstruída e distribuída com a mestria que lhe conhecemos e momentos singulares se viveram na presença dessa visão. Assistido pelo Nuno Portugal e o Leandro, o trio esteve incansável no compromisso entre a rigidez de um trabalho técnico e a presença de um conjunto de verdades que se sobrepõe.

Resta-me agradecer: aos a Jigsaw pela música, pelo tempo, o conhecimento, a amizade e irmandade e ao António pela oportunidade de ter visto a luz a desenhar-se.

Sofia Silva 
all photos © Sofia Silva, 2011