A última paragem é em Ora, uma pequena vila a 20Km de Bolzano, numa antiga estação de comboios chamada Aur-Ora Piccolo Teatro agora transfigurada num salão que espera a voz de concertos. Daqui o som da locomotiva há muito se despediu, mas ainda se ouve o fogo da caldeira; ainda se sente o guincho das rodas metálicas.
Morgan, o maquinista, falta-lhe o chapéu e o lenço de quem usa as mãos para comandar o comboio, mas não lhe falta o olhar de quem na face do destino o abraça para se lançar no vazio como quem procura nova demanda. Se a vida lhe vier bater à porta ele vai recebê-la com a paciência de quem conhece o bordado dos véus que cobrem cada uma das montanhas que circunda o vale – toma a Stefania pela mão e segue sem medo.
Assim, o maquinista introduz-nos primeiro à Luísa, à Jasmine e de seguida ao Mauro, à Verónica, ao Max, à Ale, ao Diego e ao Aronne. Por cima do salão ouvem-se cordas e as vozes de nova gravação que este grupo urde. Ocuparam a estação que espera a todas as estações – se o Inverno se ouve nos cumes, eles andam à caça do Verão nas madeiras que gemem feitas soalho destes pés.
Enquanto nos distraíamos ao entrar neste covil que nos acolheu, o salão foi enchendo até não restar sequer espaço para mais um fôlego – foi assim que terminámos a primeira noite… sem fôlego. O Lobo voltou a encher o coração e esperou que estes novos companheiros seduzissem os instrumentos até às cadeiras que se acomodaram em frente ao palco para a segunda noite. Apenas nós e eles no entrosar dos nossos instrumentos convidados à dança recuámos um sem número de anos atrás e entoámos músicas de algodão e sol abrasador. Como me confidenciava o Aronne, vamos cantar até encontrar os antigos.
Que magnífico delírio.
Obrigado, minhas novas memórias
Obrigado Maquinista.
Joao Rui
The Machinist – Every night is of different hours - the emotions are never the same, but the way they find us is always different. From Verona to Bolzano, we walked the trail that has been torn between the mountains; the walls of stone that rise stiffened against the black sky, harbor in the folds of its dress vast plains of vineyards of certain harvest. And on the face of them falls a white veil that tells us stories of the cold does not know our bones. The trail stops on the western end of the Lake Di Garda as if he wanted to offer us time for the hands to fall in the admiration of the tears that found here their resting place. The last stop is in a small village called Ora, about 20 km from Bolzano, in an old train station called Aur-Ora Piccolo Teatro, now transfigured in a hall waiting for the voice of concerts. Hence the sound of the locomotive has long been dismissed, but one can still hear the fire of the engine. One can still feel the squeal of metal wheels. Morgan, the machinist lacks the hat and scarf of whom uses hands to operate the train, but he does not lack the eye of who in face of destiny embraces it looking for new demand. If life does happen to come knocking on his door, he will receive it with the patience of those who know the embroidered veils that cover each of the mountains surrounding the valley. Thus, the machinist introduces us first to Luisa and Jasmine and then to Mauro, Veronica, Max, Diego, Ale and Aronne. Above the lounge we hear the strings and voices of the new recording that this group is weaving. They occupied the station that awaits for all seasons - the winter is heard on the ridges and they go a-hunting in the woods for the summer that is groaning in these floors made for these feet. While amusing ourselves entering this lair that took us in, the concert hall was filled until there was not even room for one more breath - that's how we finished the first night ... breathless. The wolf filled his heart again and he waited for these new companions seduced their instruments to the chairs that were arranged in front of the stage. Just us and them mingling with the instruments that were guests for this dance, we went back quite some decades and sang songs of cotton and blazing sun. Like Aronne confided in me, we’re going to sing until we find the old ones, the ancient ones. What a beautiful delirium. Thank you my new memories. Thanks Machinist. Joao Rui