fevereiro 17, 2009

Dias sem recordação IV

Já é hora?

Ouço tambores de guerra que me convidam ao embarque. Volto a vestir o casaco que me acompanha há demasiado tempo, onde vou guardando os tesouros dos dias aqui deitado. Os passos deles tornam-se mais audíveis, mais próximos: os meus dois bravos saltam para dentro da embarcação e sem demoras, as nossas penas arrumam-se contra a madeira, para receber a maré.

Tenho os bolsos cheios de romãs - que saque magnífico…

De mão apoiada no leme vamo-nos afastando da costa. Sentada na popa, a Susana ainda se despede das três irmãs que ficaram no pomar; o Jorri, de braços doridos, olha em frente para as ondas que ainda ninguém avista. O Miro sorri e vai olhando ora para bombordo, ora para estibordo e vai-se deliciando com o nosso saque.

E eu… eu não consigo evitar o sorriso idiota de quem não tirou todas as cartas da manga.

Este álbum fala também acerca de medos que afinal são ilusões e que desvanecem com o tempo.

A minha mãe diz que os medos que se desvanecem são substituídos por outros e que durante toda a vida vão aparecendo lobos. Uns novos e outros que vamos reencontrando.

E eu continuo a rir enquanto me lembrar daquele sorriso.

Estes foram os nossos últimos dias no covil…

Agora é altura de erguer o estandarte das nossas convulsões e fazermo-nos de novo ao mar.

Por mim, vou fazer dos braços barbatanas e os pés dormentes, vou torna-los memórias que não são minhas – porque se não sentirem o chão a tremer é porque o chão ainda vos aprisiona e dele serão eternos amantes.

“let me tell a tale of old times, the crimes that I did, into your heart”

JoaoRui

-------

Days without memory IV
It is time already?
I hear drums of war that call me for boarding. So wear the coat again, the one that’s been my company for so long, where I keep the treasures of the days lying here. Their steps become more audible, closer: my two brave jump into the boat and without delay, our feathers get up against the wood to receive the tide

I have pockets full of pomegranates – what magnificent loot...
With my hand over the helm we move away from the coast. Seated in the stern, Susana is still saying farewell to the three sisters that stayed in the orchard; Jorri, with sore arms, looks forward to the waves that are still in nobody’s sight. Miro smiles and keeps looking to port and to starboard delighted with our loot.

And I ... I can not avoid the idiot smile of whom did not take all the cards from the sleeve.
This album also talks about the fears that ultimately are illusions and that fade with time.
My mother says that the fading fears are replaced by others and that throughout life wolves will appear. Some new and others that keep returning.
And I keep laughing as long as I remember that smile.
These were our last days in the lair...
Now is the time to raise the banner of our fits and getting back to sea.
For me, I will make my arms fins and my numb feet, I will make of them memories that are not mine - because if you do not feel the ground shaking beneath your feet it is because it still imprisons you.
“let me tell a tale of old times, the crimes that I did, into your heart”