dezembro 21, 2008

23º dia: "One bottle of Jack, two bottles of Jack, we need more Jack"

© Sofia Silva, Johnny, 20 de Dezembro 2008

De regresso ao estúdio, foi dia de acompanhar o meu último bicho de cordas ao repositório a que correntemente chamamos o novo álbum que estamos a gravar no momento presente. Ele vinha atiçado com 24 cordas flamejantes. Foi rápido e indolor. A autoharp já lá canta. O resto do dia foi passado a gravar harmónicas. Cada uma no seu tom, cada uma no nosso tom. Maravilha. Depois, a Susana, num salto de fé, ainda deu uma perninha no xylophon para fecharmos o dia em beleza. Amanhã, volta o João na sua fase contra(baixo) e de cordas ficamos tratados. Ah, pois e piano. E amanhã a Susana também deve fazer das suas no piano e outras percussividades.

JoaoRui

Back to the studio, today was one to accompany my last stringed animal to the yard that we currently call the new album that we are recording at the present moment. He came flashy with 36 fiery strings. The autoharp is already singing there. The rest of the day was spend recording harmonicas each one in its own tone, each one in our tone. Wonderful. After that, Susana, in a leap of faith, played the xylophon to end the day well. Tomorrow Jorri returns in his upright bass turn and we’re done with strings. Ah, and piano afterwards.. oh, and Susana will do her thing on the piano as well and other percussive things.

22º dia: Framboesas nas curvas da estrada

© Sofia Silva, Susana, 19 de Dezembro 2008

O dia começou bem, não há nada mais motivante que uma manhã de quase Inverno com sol. A viagem para o estúdio foi tranquila, com boa música nas colunas e trânsito sereno na auto-estrada. Fui a primeira a chegar, estava previsto trabalhar toda a tarde com o chefe Miro. Fomos descarregando o carro: um xilofone baixo, um xilofone alto, um xilofone soprano, glockenspiel, violino, melódica… onde está a melódica, Miro, foste tu que a descarregaste? Não… o instrumento não estava dentro do estúdio, nem perdido dentro do meu carro… Depois de feitas as contas e a reconstituição da cena, cheguei à trágico-estúpida conclusão de que a pousara no capot do carro e que provavelmente ficara perdida pelo caminho. Os momentos que se seguiram foram de algum desespero e convulsivos telefonemas, mas nada feito, a minha amiga das teclas estava perdida para sempre, caída nalguma curva de estrada ou nas mãos de algum idiota que provavelmente chegou a casa e disse “Vejam o que encontrei na estrada - uma gaita!!”… As gravações tiveram que começar necessariamente pelos xilofones, que pretendem dar cor e textura a alguns temas. A meio da tarde, a mensagem do João “Já temos melódica!”, nasceu o alívio e um sorriso, obrigada, rapazes! Acabei por gravar tudo o que estava programado para hoje, incluindo os temas com a minha nova menina das teclas, que é cor de framboesa.

Nota: Hoje o Jorri não esteve connosco, mas faz cá muita falta! ;)


Susana

The day began well. There’s nothing more motivating than an almost winter morning with Sun. The trip to the studio was a quiet one, with good music on the speakers and a serene traffic in the highway. I was the first to arrive: work was scheduled to be done with boss Miro the entire afternoon. As we were unloading the car: an alto xylophone, a soprano xylophone, the glockenspiel, the violin, the melodica… where is the melodica? Did you unload it Miro? No… the instrument was not inside the studio nor lost anywhere inside my car…. After some little arithmetics and rebuilding the scenes in my mind, I came to the tragic-stupid conclusion that I had left it on the hood of my car and that it must have been lost somewhere along the way. The moments that followed were of some despair and convulsive telephone calls- but nothing could be done. My keyed fried was lost forever, lost in some road bend or in the hands of some idiot that probably went home saying “look what i found on the road, a pipe!!”… The recordings had to begin inevitably by the xylophones, that are supposed to give color and texture to some of the themes. In the middle of the afternoon, João’s message “we already have a melodica”, gave birth to relief and a smile. Thank you boys! I ended up recording all that was scheduled, including the themes with my new little girl with the keys, that is the color of raspberry.

Note: today Jorri wasn’t with us, but is dearly missed! ;)

21º dia: A Fuga

© Sofia Silva, Jorri, Dezembro 2008

Depois de uma noite em claro, voltei para perto do meu amigo de quatro cordas, e voltámos a fazer música até os dedos aguentarem. Quando isso finalmente aconteceu, abri mais uma caixa de madeira, soltei o fole, puxei umas quantas maçanetas e dei voz a mais um dos nossos companheiros, um harmonium anglo-franco-indiano… foi um dueto curto, mas com alma.
Hoje era eu que parecia o coelho da Alice, pois tive o dia todo a olhar para as horas, não porque a companhia não era boa (o contrabaixo e o harmonium até são dois dos meus instrumentos preferidos), mas hoje, o estúdio não era o covil onde eu era mais preciso.
No final do dia, arrumei a trouxa e zarpei, rumo a um covil distante onde uma torre serve de farol.

Jorri

After a white night, i went back to my four stringed friend and we went back to make music until the fingers could hold. When this finally happened, I opened another wooden box, released the bellows, pulled a couple of knobs and gave voice to another of our companions: an aglo-franco-indian Harmonium. It was a short duet, but a spirited one.

Today it was I that looked like Alice’s Rabbit, as I was looking at the time the whole day. Not because the company was not god (the upright bass and the harmonium are two of my favorite instruments), but today, the studio was not the lair where I was needed the most.

At the end of the day, I packed my stuff and sailed off to a distant lair, where a tower plays the part of a lighthouse.

20º dia: Dueto Anunciado

Finalmente chegou o dia, meu e do contrabaixo, a quem chamei o meu mais recente companheiro. Quando chegámos ao estúdio eu e o Miro, preocupados, fomos ver como estava o nosso amigo, e depois de feito o respectivo curativo, voltámos a tentar, e desta vez a sua voz estava limpa e afinada. Passei a tarde a dar-lhe carinhos e ele nunca parou de cantar, até sermos interrompidos, mais uma vez, adivinhem por quem… o coelho da Alice (apressado como de costume e com uma guitarra debaixo do braço). Fiz uma pausa no meu dueto e o João acabou as suas guitarras, juntando mais uma fiel e velha amiga ao rebanho - uma lap steal com 60 anos. Findas as guitarras, a matilha, a quem entretanto se tinha juntado o Mestre, esfomeada, foi em busca de presas. Acabámos por nos saciar com umas belas costeletas (ainda não foi desta que esfolámos o coelho). De volta ao covil retomei o meu dueto. Aconchegados pelo silêncio da noite continuámos…

Quando regressei ao refúgio, voltei a vestir o camuflado e aninhei-me na guarita, para mais uma noite de vigia, mas lá fora tudo parecia diferente, os lobos não paravam de uivar e a lua cheia, lá no alto, dava mais luz do que nas outras noites. Fiquei com os sentidos mais alerta, mas depois percebi que ambos, os lobos e a lua, estavam a guiar uma lobita para o seu covil.

Jorri

Finally, the day came, mine and my upright bass, whom i’ve called my most recent companion. When Miro and I arrived to the studio, we went, worried, to see how our friend was. And after the respective patch, we triend him again. And this time his voice was clean and in tune. I spent the afternoon cudling him and he never ceased to sing , until we were interrupted by, guess who… Alice’s Rabbit (in a hurry, as usual and with a guitar beneath his arm). I took a pause in my duet and João Finished his guitars, adding another old faithful friend to the herd – a 60 year old lap steel. As soon as the guitars were done, the pack, now with Mestre along, went out to hunt for preys. We feasted with some nice ribs (still, it wasn’t today that we skinned the rabbit). Back to the lair, I went back to my duet. Snuggled but the silence of the night,we carried on….

When I went back to our refuge, I dressed my overcoat again and spent another night of vigil. Outside everything seemed different. The wolves were howling and the moon, up high, was brighter than the other nights. My senses were sharper for I figured that both the wolves and the moon were guiding a little wolf to her lair.

19º dia: O Fechar da Caixa

Cá estou eu novamente, durante o fim-de-semana, o João e a Susana acabaram de gravar guitarras acústicas e violinos respectivamente, por isso hoje o dia foi só para mim. Depois de acertarmos e editarmos algumas coisas, eu e o Miro voltámos à nossa caixa de Pandora e passámos a tarde a criar e recriar os mais estranhos sons, muitos dos quais nem o próprio Dumbo vai conseguir ouvir, pelo menos à primeira audição. No fim arrumámos tudo e fechámos a caixa. Mas foram três os nomes que marcaram a tarde: Miro, Mestre e Cash, todos por razões diferentes. O Miro, que para quem não sabe tem sangue brasileiro, levantou a “bunda” do cadeirão de produtor e foi para o outro lado do espelho sentar-se no cajon e deu azo às suas raízes tribais. O Mestre, apareceu ao final da tarde para dar um olá e acabou também ele por “varrer” o adufe. Já o Sr. Cash ficou registado para a eternidade, mas para saberem como, depois têm que ouvir o álbum…

Jorri

Here I am again. During the weekend, João and Susana ended the recording of acoustic guitars and violins, respectively, so today was only for me. After adjusting a couple of things and editing a couple of others, I and Miro went back to our Pandora’s Box and spent the afternoon recreating the weirdest sounds, many of which even Dumbo himself will not be able to listen – at least at the first try. At the end, we closed the box. But three names mark the afternoon: Miro, JR (Mestre) and Cash, all for different reasons: Miro, that, for whom does not know, has Brazilian blood, lifted his “butt” from the producer big chair and went to the other side of the glass to give away to his tribal roots on the cajon. Mestre came by the end of the afternoon to say hi, and ended up sweeping the adufe. Now Mr. Cash is registered to all eternity, but to know how, you must hear the album later…