junho 13, 2009

A Casa Azul #3

Chego de manhã. Agora a Casa é um caixote de surpresas com céu e terra lá dentro. Mostram-me as traves mestras, que afinal são de cartão e repenso a história da família que tomou estas paredes de assalto... como se têm vindo a recriar!

Quatro da tarde e as nuvens entram em casa. Cheira a carvão e na mesa estendem-se as dúvidas para mais uma refeição. Esta família vive numa estação imaginária e degusta as gotas que caem como se de um sopro húmido se tratasse...

Agora é Verão. O João pensa no par de calções que vai vestir amanhã. Pensa que a Casa guardará esse segredo.
Agora é Primavera. A Susana pensa nos sapatos que lhe pode oferecer amanhã. Pensa que a Casa agradecerá o presente.
Agora é Inverno. O Jorri pensa nas paredes que tem de voltar a cobrir. Pensa que a Casa beneficiará do conforto.
Agora é Outono. O Mané pensa em despir os telhados para deixar a luz entrar. Pensa que a Casa compreenderá a confiança.

Finalmente de volta, reunidos numa mesa de cozinha. Há cebolas, feijões, abóboras e laranjas à disposição e todo um leque de culturas em fase de plantação. Fala-se do barulho dos instrumentos, dos sons que se registam em silêncio e a Casa insiste em ser o futuro, em dar as respostas que não sabemos querer.

Há quem pinte paredes para creditar o passado, outros há que pintam portas para depois as usar. A lua acende-se antes da noite e a Casa respira de alívio quando percebe que somos mais do que o que trazemos. Eu tomo o ar de volta e abalo. Em jeito de nota lhe explico que sou como gotado de resina de vida que também sei que ela tem.

SofiaSilva

A Casa Azul #2