outubro 04, 2011

Vila... é tinto e depois


Gerimos todos vidas paralelas. Aqueles dados às chamadas redes sociais gerem uma série de vidas virtuais, mas na prática, quem viver aquilo que o tempo biológico permitir fazer, acaba a gingar por entre as vidas dos amigos, a da família e do(s) amante(s). No centro deste baile está a pessoa singular, essa a trocar de par por entre os seus outros milhares de Eus.

Primeiro com o Freud, depois com o Lacan, a humanidade pôde aprender que nomes chamar a estes duplos que nos assombram e aos outros que tomam conta de nós. Por muito inoportuno que pareça neste contexto a palavra Autenticidade, tão presa ao lugar do Imaginário, tão presa ao Id, aplica-se aqui à minha relação com os Jigsaw, e à relação deles com a sua forma de expressão A maior parte das vezes não pelo que está, mas pelo que pôde haver, porque se foi.

Não precisa este albúm de ser ouvido para que se perceba que a Morte tem estado sempre no foro das histórias dos a Jigsaw. A morte, a par com a esperança. Vejo-as sempre na boca do João Rui como metáforas dos pequenos elogios fúnebres, quando deixamos escapar um de nós, quando cedemos demais e nos apagamos. No clímax, quando nos entregamos e mergulhamos à procura de alguém.


Enquanto fotógrafa digo que passamos anos à procura do momento em que consigamos estar e ver e depois olhar. Claro, depois carregar no botão. Claro, depois comunicar. Mas no plano de trabalho não está nunca a Ideia e está sempre a contemplação da surpresa. Venho aqui apenas para justificar isto: que levou tempo, mas agora cheguei a vós! Ao momento que é ao mesmo tempo particular que universal. É, pode ser ou será, mas eu julgo que seja.

Sofia Silva 
all photos © Sofia Silva, 2011

Nada disso é gente e eu gosto de estar com gente (falo de corpos), um enchimento de gente à roda, compacta, onde recebemos e damos, estamos e lutamos, sofremos em comum e gozamos. Onde tudo de nós é ampliado, revigorado, e medido pelo colectivo, pelos outros - espelho e limite, cadeia e espaço imenso, liberdade e nossa conquista.

Luiz Pacheco, A Comunidade