Gerimos todos
vidas paralelas. Aqueles dados às chamadas redes sociais gerem uma série de
vidas virtuais, mas na prática, quem viver aquilo que o tempo biológico
permitir fazer, acaba a gingar por entre as vidas dos amigos, a da família e do(s) amante(s). No centro deste baile está a pessoa singular, essa a trocar de
par por entre os seus outros milhares de Eus.
Primeiro com o
Freud, depois com o Lacan, a humanidade pôde aprender que nomes chamar a estes
duplos que nos assombram e aos outros que tomam conta de nós. Por muito
inoportuno que pareça neste contexto a palavra Autenticidade, tão presa ao
lugar do Imaginário, tão presa ao Id, aplica-se aqui à minha relação com os
Jigsaw, e à relação deles com a sua forma de expressão A maior parte das vezes
não pelo que está, mas pelo que pôde haver, porque se foi.
Não precisa este
albúm de ser ouvido para que se perceba que a Morte tem estado sempre no foro
das histórias dos a Jigsaw. A morte, a par com a esperança. Vejo-as sempre na
boca do João Rui como metáforas dos pequenos elogios fúnebres, quando
deixamos escapar um de nós, quando cedemos demais e nos apagamos. No clímax,
quando nos entregamos e mergulhamos à procura de alguém.
Enquanto
fotógrafa digo que passamos anos à procura do momento em que consigamos estar e
ver e depois olhar. Claro, depois carregar no botão. Claro, depois comunicar.
Mas no plano de trabalho não está nunca a Ideia e está sempre a contemplação da
surpresa. Venho aqui apenas para justificar isto: que levou tempo, mas agora cheguei
a vós! Ao momento que é ao mesmo tempo particular que universal. É, pode ser ou
será, mas eu julgo que seja.
all photos © Sofia Silva, 2011
Nada disso é gente e eu gosto de estar com gente (falo de corpos), um
enchimento de gente à roda, compacta, onde recebemos e damos, estamos e
lutamos, sofremos em comum e gozamos. Onde tudo de nós é ampliado, revigorado,
e medido pelo colectivo, pelos outros - espelho e limite, cadeia e espaço
imenso, liberdade e nossa conquista.
Luiz Pacheco, A Comunidade