fevereiro 20, 2010

Esperança de abrigo

Ainda não conhecia a chuva de Itália. Conheço-a agora ao ouvir as grossas bátegas que se quebram no telhado do Ca’ Magre Live. O dia inteiro foi assim: de céu cerrado e de diversos tons de cinza – só não conhecemos ainda o sol porque as nuvens não o permitem. Foi assim que chegámos a Verona durante a tarde: de pés irrequietos sob uma chuva que não parou sequer para respirar. Aqui todas as pontes que unem ambas as faces do rio atravessam-no para encontrar a Giulietta. A rua é igual a todas as outras, a arcada que a separa da casa também não é diferente e a varanda é o ainda menos (se aqui os nossos passos nos conduziram foi coincidência e nada mais)

Mas o passo é diferente quando a calçada conhece o coração que se enternece nestes dilúvios. Deixo-me cair num dos bancos de mármore que ladeiam a arcada e o corpo mistura-se com as centenas de notas de amor que prenderam nas paredes em papéis de todas as formas. Fico o suficiente para observar como coisa simples como o vento afugente este trágico bando de pássaros que procuram aqui esperança de abrigo. E a cada investida do vento, mais uma mensagem de amor (ou coisa parecida) rodopia até desaparecer nas ruas de Verona.

Seguimos para diante e cortamos à esquerda no encalço de chuva até chegar às portas da igreja de S. Anastasia… meu Deus… se o meu coração não for suficiente para albergar tamanha beleza, dá-me privilégio de outro que o que me resta é falta de espaço para tudo o que não queria esquecer. Nem descrevo, nem palavras. Mudo. Desta vez, o corpo foi entregue às antigas portas de madeira pela qual os séculos passaram com alguma misericórdia.

Mas antes que a violência da chuva nos volte a embalar até ao sonho, obrigado Alessandro e Fabrizzio. O Lobo não poderia ter encontrado melhor companhia do que todas as pessoas que hoje vieram celebrar o final de um dia tão cinzento.

(gostava tanto de poder pendurar os meus olhos numa destas torres e seguir o resto do caminho cego...)

Joao Rui
Hope of shelter – I dind’t know the rain of Italy. I know it now as I listen to the heavy drops breaking against the roof of the Ca 'Magre Live. The whole day was like this: a closed sky and of shades of gray – we are yet to know the sun because the clouds do not allow it. That's how we came to Verona during the afternoon: with restless feet under a rain that did not stop, not even to breathe. Here, all the bridges that connect both faces of the river cross it to find Giulietta. The street is like all others, the archway that separates the house is no different and the balcony is even less (if our steps led us here was a coincidence and nothing more). But the step is different where the sidewalk knows the heart that melts in these floods. I let myself fall into the marble benches that flank the arch and the body blends with the hundreds of love notes on the walls, held in papers of all kinds. I stay enough to see how something simple like the wind scares off this tragic flock of birds that are here seeking hope for shelter. And on every whirlwind, another message of love (or something alike) spins to disappear in the streets of Verona. We move forward and turn to the left in the wake of rain, to reach the doors of the church of S. Anastasia ... my God ... if my heart is not enough to accommodate such beauty, give me the privilege of another because what I have left is the lack of space for everything I do not want to forget. Not a description, nor words. Mute. This time, the body was handed over to the old wooden doors through which centuries went mercifully. But before the violence of the rain takes us back to the dream, thank you Alessandro and Fabrizzio. The Wolf could not have found a better company than all the people who came today to celebrate the end of such a gray day. (I would like so much to be able to can hang my eyes in these towers and head the rest of the road blind...) Joao Rui

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