Dias sem palavras, apenas de gestos e coincidências. Ruas de santos e catedrais onde não cabe toda a fé que aqui procura albergue. Os prédios modernos destas cidades não são boa companhia das torres que entre eles reivindicam os olhos de Deus. Em Padova, uma catedral da qual não me recordo do nome escrito numa das entradas guarda feridas de outros dias. Como é o som do caos? É o sabor da cinza das ruínas que a guerra dá à luz. Parte desta catedral é restauro de obra de demónios desconhecedores de fronteiras sagradas. De cada um dos lados do altar há um anjo que segura uma coroa na mão e ao centro dele esperam outros dois que esperam a chegada. Mas se a igreja é dos homens e Deus é o de todas as coisas invisíveis, então a oliveira por onde passámos à porta da catedral deveria ser o suficiente para aguardar qualquer chegada – ou partida.
Os bancos dianteiros prostrados diante do altar têm placas com os nomes gravados das almas que ao partir daqui os decidiram cá deixar para os que cá ficaram. Estranha é a vontade humana. Andamos em círculos até nos encontrarmos, mas não nos quedamos o suficiente e continuamos em círculos até nos perdermos.
Avançamos para Vicenza, retrocedemos a Padova.
A cada passo do regresso, o som dos sinos que assomam a praça principal de Vicenza num estrondo ensurdecedor, vai aumentando até nada se ouvir senão silêncio. Ouço o lobo dentro do meu peito e aguardo novo estrondo.
Aguardo sempre novo estrondo.
Joao RuiIn circles until we find ourselves - Days without words – only of gestures and coincidences. Streets of Saints and cathedrals where all the faith that looks here for shelter cannot fit. The modern buildings of these cities are not good company for the towers that among them claim the eyes of God. In Padova, a cathedral of which I do not remember the name written in one of the entrances, keeps wounds of other days. How is the sound of chaos? It’s the taste of the ashes that war gives birth to. Part of this cathedral is restoration of the work of devils that do not know what holy frontiers are. On each of the sides of the altar there is an angel with a crown and at the center there are two more that await the arrival. But if the church is of men and God is he of the invisible things, then the olive tree that we crossed at the door of the cathedral should be enough to away any arrival – or departure. The front benches of the altar have engraved plates with the names of souls that leaving this place decided to leave them to those who stayed. Strange is the human will. We go around in circles until we find ourselves but then we don’t stop and keep on going in circles until we get lost. We head to Vicenza and go back to Padova. At each step of the return, the sound of the bells that cry in the principal square of Vicenza gets louder and louder until nothing remains but silence. I hear the wolf inside my chest and await a new cry. I always await a new cry. Joao Rui
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