Luzes, câmara, não se mexam. E assim permanecemos mudos em fracções de segundo à espera que nos arrastem a alma para dentro de uma caixa de onde espreita uma lente através da qual espreita outra alma que decidiu atrair a nossa para dentro de uma armadilha – e é sempre tarde demais para a trazer de volta. A fotografia agrilhoa a superfície das emoções às histórias que sob ela pulsam, mas de quando em vez o click da máquina coincide acidentalmente com a emoção e aí a alma não é nem roubada nem enganada: é antes seduzida – chama-se “a sedução da vaidade” ao momento em que ela tropeça no beiral dos lábios para nos abandonar o corpo.
Lisboa dos jardins. Aqui são quase tantos como as frestas dos muros por onde se pode espreitar o mar. Com o dia a ameaçar chuva mas a entregar-se em devaneios solares aqui andámos entre ramos mal partidos e clareiras bem iluminadas – à espera que dez olhos encontrassem o momento ideal para nos manter quietos sob o olhar da Rita, que olhava tudo como quem conhece o segredo da sedução.
Os antigos acreditavam que a alma era roubada pela fotografia; eu acredito que é o mar que a leva, mas a vida dá mais voltas que o sangue dentro do coração.
JoaoRui
Lisbon in 3 acts (Act III) Lights, camera, do not move. And so we remain silent in fractions of a second waiting for the soul to be lured into a box where lurks a lens through which lurks another soul who decided to attract ours into a trap - and it's always too late to bring it back. The photography shackles the surface of emotions to the stories that are pulsating beneath it, but from time to time the click of the machine accidentally coincides with the emotion and then, the soul is neither stolen nor deceived: it is seduced - it's called "the seduction of vanity "the moment when she stumbles on the edge of the lips to leave our body. Lisbon of the gardens. Here they are almost as many as the cracks in the walls through where you can peek at the sea. With the day threatening rain, but indulging in daydreams of sun, here we went between badly broken branches and bright clearings - waiting for ten eyes to find the ideal time to keep us quiet, underneath the eye of Rita, who looked upon it all as someone who knows the secret of seduction. The ancients believed that the soul was stolen by the photograph, I believe it is the sea that takes her, but life takes turns more turns than the blood inside the heart. JoaoRui
Lindíssimo... acompanha bem a vossa música.
ResponderEliminarFoi muito bom descobrir-vos!!!
A alma nunca é roubada. Pode ser entregue, quem a quer entregar. E isso vê-se na imagem. São as que nos tocam.
beijos,
Rita
Foi um privilégio ouvir-vos no dia 29/01/10 na Covilhã.
ResponderEliminarObrigada :)
Laura, uma recente e jovem admiradora*