abril 30, 2011

No oblidem [28.04.2011 Barcelona – Espanha]

Regressamos a outro país dentro de outro país; tenho a sensação que também assim somos: o nosso coração é um país dentro de outro. E está sempre em guerra ou numa paz de silêncio e veneno – esse que encontrado sem a sua independência se vê roubado dela. E quando souber dizer a esse ladrão que o pouco que rouba é tudo o que me resta, será tarde de mais para lhe oferecer o que me sobrava.
João Rui


Photo: João P. Miranda
Don’t Forget [28.04.2011 Barcelona – Espanha] We return to another country within another country, I have a feeling that we are the same: our heart is a country within another. And he is always at war or in a peace of silence and poison – this one who finding himself without his independence sees himself stolen of it. And when I know how to tell that thief that the little he is stealing is all I have left, it will be too late to offer him that I had left.
João Rui

abril 27, 2011

a Jigsaw - Rebel Rebel (David Bowie) Live at "Le Galopin" / France 2011


Video by João P. Miranda [ Bretagne (France) 2011 ]
24.04.2011

Live at "Le Galopin" - 23rd Anniversary

a Jigsaw, performing David Bowie's "Rebel Rebel"

abril 26, 2011

“C'est pas la bière qui te fait pleurer“ [24.04.2011 Guingamp – França]

::: Soirée Privée :::
"Six Blind Days": avec le accordeoniste extraordinaire Jean Marc
"Mon Petit Garçon": Fif, Jean Marc et a Jigsaw

Photo: João P. Miranda

“Dans la côte à la nuit tombée, On chante encore sur les violons. Au bistrot sur l'accordéon,
C'est pas la bière qui te fait pleurer“

abril 25, 2011

L'absence et délire [23.04.2011 Trébeurdent – França]

É estranha a hora em que oferecemos guarida ao delírio do qual fomos amantes e presas.
É a consciência da loucura com que permitimos a ausência da nossa certeza de partida.
João Rui

Photo: João P. Miranda

L'absence et délire [23.04.2011 Trébeurdent – França] – it is a strange hour, this when we offer shelter to the delirum of which we were both lovers and preys. It’s the conscience of the madness with which we allow the absence of our certainty of departure. João Rui

abril 23, 2011

A eternidade de silêncio [22.04.2011 Guingamp – França]

A noite não conhece o nosso sono; não totalmente. Ou então não o compreende. E assim, como silhuetas de Outono, atravessamos Espanha rumo a França através das longas horas desta noite. Aqui vimos encontrar um país dentro de outro país: a Bretanha. Fif, o timoneiro desta embarcação diz-me, ainda de olhos apaixonados pelo nosso Porto, que a Bretanha é como Portugal: não é um caminho nem passagem, mas um destino. Para nós tem sido em si também um porto; uma partida; uma chegada – um destino fugaz de quem a nada mais pertence. E assim assomamos o palco deste país como se fora o derradeiro concerto; como se o sangue nos abandonasse num estrondo e se seguisse a eternidade do silêncio
João Rui

Photo: João P. Miranda

The eternity of Silence [22.04.2011 Guingamp – France] The night does not know our sleep; not entirely. Or maybe she does not understand it. And so, as silhouettes of autumn, we go through Spain towards France in the long hours this evening. We find here a country within another country: Brittany. Fif, the helmsman of this boat tells me, with eyes still passionate for our Oporto, tells me that Brittany and Portugal are the same: not a path nor a passage, but a destination. To us it has been in itself also an harbour; a departure and an arrival - an elusive target for whom no longer belongs to anywhere. And so, we took the stage of this country as if it was the last concert; as if the blood abandoned us in a blast and what followed was the eternity of silence. João Rui

abril 22, 2011

Da Fé [21.04.2011 Santander - Espanha]

E se todos os barcos deste porto partissem neste momento; nesta noite…
Quem cuidaria das preces que aqui vimos entregar?
Acompanhamos a lentidão desta marcha em cada acorde.
Como se fôramos parte dela. Como se pudéssemos não ser.
João Rui


Photo: João P. Miranda

Of Faith [21.04.2011 Santander - Espanha] - What if all the boats of this harbour suddenly parted this instant; this night… Who would take care of these prayers that we came to deliver? We follow this slow march in each chord. As if we were part of it. As if we could not be so. João Rui

abril 10, 2011

O fim de tudo [09.04.2011 Esposende]

Continuamos a viagem para norte, a caminho do mar. Sentados em torno de uma mesa, falamos do fim de todas as coisas, para não nos esquecermos do princípio delas. O que em breve será o pão de cada dia, agora é apenas lenha que se entrega à fornalha – e hoje é um bom dia para incendiar estas ruínas.
João Rui

Photo: Biel

The end of everything [09.04.2011 Esposende] – we keep on our journey up north, towards the sea. Sitting around a table, we speak of the end of all things, so that we don’t forget their beginning. What soon will be the bread of each day, is now but wood that we deliver to the furnace – and today is a good day to set fire to these ruins. João Rui

abril 09, 2011

A preparação [08.04.2011 Porto]

A camisa negra ao fundo da gaveta ainda lavada de Itália, o gancho de cabelo perdido entre cordas de violino, a gravata esquecida no cabide abandonado. Arrumamos artefactos possuídos de estranhas memórias nos mesmos corpos destes corações partidos. Regressamos ao porto; ao Porto; ao porto. É como se voltássemos a cruzar o rio do Barqueiro porque em ambas as margens encontramos um olhar que já faz parte do nosso e que nos vê chegar e partir como se fossem ondas arrependidas da sua voragem junto à areia. Maus Hábitos…
João Rui
Photo: Biel
The preparation [08.04.2011 Porto, Portugal] - The black shirt at the back of drawer still washed from Italy, the hairpin lost between violin strings, the forgotten tie in the abandoned hanger. We pack these artifacts suddenly possessed of strange memories in the same bodies of these broken hearts. We returned to the harbour, to Porto, to the harbour. It is as if we returned to cross the river of the Boatman for on both sides we find a stare that is part of ours that sees us coming and going like waves regretted of their vortex along the sand. Bad Habits ...
João Rui

abril 04, 2011

O Desassossego da estrada [01.04.2011 Beja]

E se o caminho tivera sido outro? A caminho do coração do Alentejo, as cidades vão surgindo por detrás dos montes que a estrada rasga. Calor impossível de afagar. O termómetro regressa ao verão por instantes. Ainda é cedo, mas a visão do mar da Nazaré torna esta verdade numa realidade. Talvez seja o brasido do verão que me vem avisar da despedida da sua clemência. Seremos suor e pouco mais dentro de alguns meses. Beja recebe-nos no estertor desta Primavera recém-nascida, como se ela soubera do Desassossego que em nós também habita. E se o caminho tivera sido outro? Este palco ruidoso é irmão de outro que encontrámos em Itália. É-o no nosso coração. Talvez seja por isso que ele lá ficou. Mais uma memória que encontrou forma de não desvanecer. E a esta hora que regressamos a casa, já a chuva voltou para nos esquecer do sol e de tudo o mais possível de esquecer. Já pouco somos de onde estamos e já tão pouco somos quem éramos. E se o caminho tivera sido outro?

João Rui

Photo: João P. Miranda

The disquiet of the road - What if the path had been another? In our way to Alentejo, the cities appear behind the hills this road is tearing apart. Impossible heat. The thermometer returns to summer for a brief instant. It’s still too soon, but the vision of Nazaré’s sea turns this truth into a reality. Maybe this heat of summer is coming to warn me of the farewell of its mercy. We will be no more than sweat in a few months. Beja receives us with the last breath of this new born Spring. As if she knew of the disquiet that also lives within us. What if the path had been another? This noisy stage is a brother of one other that we found in Italy. It is so in our heart. Maybe that’s why he stayed there. Another memory that found a way to not fade away. And at this hour that we return home, the rain made its way back to make us forget of the sun and all other things that are possible to forget. We are so far from where we are and we’re so far from what we were. What if the path had been another? João Rui

abril 02, 2011

O Baile de Debutantes [Recording Sessions]

Algumas chegaram há pouco, mas outras já partilham connosco a Casa Azul há algum tempo - as Vozes. Vozes com cordas, vozes com teclas, vozes com pele, algumas da idade dos nossos avós, outras que fomos buscar ao lado mais a leste da Europa e ainda aquelas que cruzaram sozinhas o Atlântico, a querer chamar casa a uma morada ainda desconhecida. As nossas Vozes. Pergunto-me se não seremos nós mais delas… Somos tão desajeitados, às vezes, (nem posso deixar de sorrir com alguma ternura ao relembrar alguns pequenos desastres :)) mas o desejo de construir a canção que pulsa na nossa cabeça é tão maior que aquilo que nos quer limitar… !! Ainda não é hora de abrir as portas aos convidados, de começar o Baile que há-de ser festa ou viagem, mas acreditem que muito se tem cantado nesta Casa.

Susana



(Serra de S. Mamede)