maio 30, 2010

Como num sonho

Vamos por entre montanhas entre paisagens de D. Quixote renovado. Os olhos estranham o metal plantado entre as árvores. Mas o destino é diverso. Há uma estranha sensação – tão estranha de familiar. Há um rio que aqui passa entre as árvores que o envolve nos seus braços. Agora não, mas um pouco mais acima, ou atrás, a corrente parece acorrentada às raízes delas. Em instantes fico mais próximo do outro D. Quixote – de quando em vez parece-me que temos de nos afastar tanto de casa para enfim a ela retornarmos. O sol que aqui vai caindo por detrás dos pinheiros bravos sela este acordo de regresso. Então há que fugir porque se regresso não volto.
Como num sonho.
João Rui
Like in a dream – we move along through mountains that are landscapes of a renewed D. Quixote. The eyes are strangers to the metal planted between the trees. But here destiny is different. There is a strange sensation – so strange of being familiar. There’s a river here that moves along the trees that wrap it in their arms. Not now, but further up ahead, or before, the stream seems tied to their roots. In an instant I’m closer to the other D. Quixote – sometimes I feel that we have to move so far away from home to finally return to it. The Sun here that is falling behind the wild pine trees ties this contract f returning. So I must run because if I return I won’t come back. Like in a dream. Joao Rui

maio 24, 2010

Chiado depois da lavoura

Depois, muito depois dos dias, o calor ainda nos persegue.
Se aqui nos quedarmos somos devorados pelo tempo.
Sem silêncio. Sem ruído.
Fica sempre tanto por contar em frente ao espelho.
Esquecemo-nos sempre de demasiado.
Especialmente se olharmos de mais.
Joao Rui
Chiado After Work - Long after; long after the days, the heat is still in our trail. If we stay here too long, we’ll be devoured by time. Without silence. Without noise. There’s always so much that is not told in front of the mirror. We always forget too much. Specially if we look too much. Joao Rui

maio 22, 2010

Neve de Verão

Os dias de ausência não deixam memória nos lábios da manhã.
Se antes era a chuva que nos convidada a regressar a Lisboa, ultimamente tem sido este calor de incêndio que nos vai temperando o suor até às portas da cidade.
No adeus de Coimbra, desprendem-se das árvores que ladeiam a estrada pequenos flocos de saudade, que voltejam e latejam em torno de nós.
É esta neve de verão que nos trespassa e antecede os vastos campos de papoilas e malmequeres que tivemos de percorrer até ao cais do sodré.
Ainda há horas, ou talvez dias, os Soaked Lamb incendiavam este palco… então hoje é dia de lançar o fogo ao resto do cais em torno do Musicbox.
Em hora de silêncio, tão solitária, vamos à beira rio cumprimentar o Barqueiro.
Nosso bom assassino.
Joao Rui
Summer Snow - The days of absence leave no memory on the lips of the morning. If it was rain that was once inviting us to return to Lisbon, lately it has been this heat of fire that is tempering the sweat to the gates of the city. In the farewell of Coimbra flakes detach themselves from the trees that flank the road; small flakes that whirl around us. This is the snow of the summer that precedes and pervades the vast fields of poppies and marigolds that we cross to Cais do Sodre.Hours ago, or perhaps days, the Soaked Lamb were setting fire to this stage ... so today is the day to throw the fire to the rest of the pier around the Musicbox.In the hour of silence, so lonely, we go to the river to greet the Boatman.Our good killer. JoaoRui

maio 06, 2010

O novo mundo

Ou o Colombo. Com o Gito na 1ª fila o espaço entre o contrabaixo dele e o His Secret ou o Six Blind days, o movimento mudo das suas mãos é para nós ainda mais audível. Veio de sorriso aberto para lhe entregarmos as músicas que vimos apresentar. Hoje é o último dia desta demanda a Lisboa. Regressamos dia 21 com o resto dos nossos companheiros que não encontraram espaço aqui neste palco. Vieram olhos de longe para nos receber. Vieram olhos que não sabiam que os iríamos receber. É fantástica a coincidência dos nossos passos se cruzarem com os trilhos de outros lobos.
Vamos mais uma vez de coração cheio.
Obrigado.
Joao Rui


The New World - Or Columbus. With Gito in the first row, the space between his Upright Bass and “His Secret” or “Six Blind Days”, the silent movement of his hands is even more audible for us. He came with an open smile so we could give him the songs we came to present. Today is the last day of this tour to Lisbon. We’ll be back on the 21st with the rest of our fellows that couldn’t find space in this stage. There were eyes that came from far to meet us. There were eyes that didn’t know we would receive them. It’s an amazing coincidence that our steps cross with the paths of other wolves. We go again with a full heart. Thank you. Joao Rui

maio 02, 2010

Prenúncio de partida

Continuamos à espera.
Seguimos para o mar
Continuamos à espera.
Neste espaço que nos separa dele somos divididos entre a vontade de o abraçar e o desejo de o transbordar. São olhos desprovidos de tempo os que nos contemplam por detrás da maresia; são bardos silenciosos que daqui nos vão arrancar o coração.
O prenúncio da partida é o súbito comprimir do peito ao aprisionar o sangue que as pernas clamam para movimento. E o inesperado vazio? Enchemo-lo de lágrimas para que não lhe falte substituto de vida e avançamos como se nada fora. Como se nada fora.

JoaoRui
The harbinger of departure - We’re still waiting. We head out to the sea. We’re still waiting. In this space between us, we are divided by the will to hold it and the desire to overflow it. Those eyes that stare at us through the foam have no time. They are silent singers that will rip our hearts. The harbinger of leaving is the sudden compressing of the chest while imprisoning the blood that the legs claim for movement. And the unexpected emptiness? We fill it with tears so that he won’t miss substitute of life. And we head on like it was nothing. Like it was nothing. Joao Rui