Luzes, câmara, não se mexam. E assim permanecemos mudos em fracções de segundo à espera que nos arrastem a alma para dentro de uma caixa de onde espreita uma lente através da qual espreita outra alma que decidiu atrair a nossa para dentro de uma armadilha – e é sempre tarde demais para a trazer de volta. A fotografia agrilhoa a superfície das emoções às histórias que sob ela pulsam, mas de quando em vez o click da máquina coincide acidentalmente com a emoção e aí a alma não é nem roubada nem enganada: é antes seduzida – chama-se “a sedução da vaidade” ao momento em que ela tropeça no beiral dos lábios para nos abandonar o corpo.
Lisboa dos jardins. Aqui são quase tantos como as frestas dos muros por onde se pode espreitar o mar. Com o dia a ameaçar chuva mas a entregar-se em devaneios solares aqui andámos entre ramos mal partidos e clareiras bem iluminadas – à espera que dez olhos encontrassem o momento ideal para nos manter quietos sob o olhar da Rita, que olhava tudo como quem conhece o segredo da sedução.
Os antigos acreditavam que a alma era roubada pela fotografia; eu acredito que é o mar que a leva, mas a vida dá mais voltas que o sangue dentro do coração.
JoaoRui