Eternos regressos. Regressámos à estrada para celebrar uma década de caminho – ou de sonhos. O caminho não é certo, nunca o foi. Mas fomos sempre em frente, como se não houvera outra maneira, guiados por aquilo que gosto de chamar “a certeza da luz”. No dia doze, tal como há dez anos atrás, regressámos ao principio do desalinho.
Mas dez anos não são assim tantos. É tudo uma questão de perspectiva. O que foram dez anos na grande muralha da china… uns metros apenas, ainda nem metade estava completa – qual metade? É um pouco como nós. Ainda estamos na antecâmara do sonho e ainda não conhecemos o peso dos degraus que vamos construir daqui a dois três cinco, dez anos. O que vai ficando para trás é apenas memória do que fomos. Este momento já é memória e passado.
De certo que os incansáveis obreiros da muralha celebraram se não os dias, então os metros de muro conquistado ou à ausência dele. No dia seguinte retorna-se à argamassa e aos esboços do futuro para se voltar, dali a alguns anos ou dias ou segundos, a celebrar as vitórias onde sem a vontade haveria apenas certeza de vazio.
A vida vai sempre trocar-nos as voltas.
Ao fim deste tempo todo descobri que o que define as pessoas não é a maneira como se levantam depois da queda, mas sim o que dizem quando vão a cair. Então, se o futuro é desconhecido e o presente o último estertor do passado, há que medir bem todas palavras para que estas não se tornem amantes do silêncio.
I’ve got them blues boys!
JoaoRui
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