Na maioria dos casos, não nos faltam asas e muito menos o chão debaixo dos pés – dele temos nós de sobra. A ausência é apenas do espaço de impulsão: então, no lugar de asas, quedamo-nos somente com as penas delas e os sonhos que perdemos.
Hoje não fomos apenas nós os três que navegámos este barco embriagado. De olhos raiados de sangue e dedos cravados nos pés das orquídeas que nasceram no silêncio, enfrentámos o gelo onde se cristalizou a génese da melodia. Nós, já a havíamos perseguido até a encurralar entre as feridas dos dedos e o chicotear das cordas que não suportaram a tensão. Agora voltamos à carga, vez após vez, até que nada nos separe – e é apenas aí que a fita colhe as cicatrizes e os segredos que vêm arrastando os pés na sombra da luz mais intensa.
Assim que a noite caiu, senti passos lá fora, à porta do estúdio: O estrangeiro, de sobrolho carregado e a pele tisnada do sol. Veio trazer uma história que trazia arrastada pelos cabelos e poisou-a aos meus pés. E eu, que nisto tudo sou apenas o reflexo da voz, sentei-me ao fundo da sala a observar o estranho espectáculo: fincou os dentes no dorso do inverno...
Mas hoje não fomos apenas os três dentro desta embarcação. O coro, também ele embriagado, escondia-se já há vários dias entre a espuma das ondas – esperou até ao último fôlego, e depois tomou o barco de assalto...
Corsários… Que doce vigília.
“I’m going to tell you a story that will make you cry”
Hoje não fomos apenas nós os três que navegámos este barco embriagado. De olhos raiados de sangue e dedos cravados nos pés das orquídeas que nasceram no silêncio, enfrentámos o gelo onde se cristalizou a génese da melodia. Nós, já a havíamos perseguido até a encurralar entre as feridas dos dedos e o chicotear das cordas que não suportaram a tensão. Agora voltamos à carga, vez após vez, até que nada nos separe – e é apenas aí que a fita colhe as cicatrizes e os segredos que vêm arrastando os pés na sombra da luz mais intensa.
Assim que a noite caiu, senti passos lá fora, à porta do estúdio: O estrangeiro, de sobrolho carregado e a pele tisnada do sol. Veio trazer uma história que trazia arrastada pelos cabelos e poisou-a aos meus pés. E eu, que nisto tudo sou apenas o reflexo da voz, sentei-me ao fundo da sala a observar o estranho espectáculo: fincou os dentes no dorso do inverno...
Mas hoje não fomos apenas os três dentro desta embarcação. O coro, também ele embriagado, escondia-se já há vários dias entre a espuma das ondas – esperou até ao último fôlego, e depois tomou o barco de assalto...
Corsários… Que doce vigília.
“I’m going to tell you a story that will make you cry”
JoaoRui
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/5 days adrift/ Day 3: Winter’s ember
In most cases, we do not miss wings, much less the ground under our feet - we have enough of that to spare. The lack is only of propulsion space: then, instead of wings, we only have feathers and the dreams we lose.
Today we were more than three sailing the drunken boa. With bloody eyes, and fingers carved on the feet of the orchids born in silence, we faced the ice where the genesis of the melody crystallized. We had already chased her until we cornered her between the wounds of our fingers and the whip of the strings that couldn’t hold the tension. Now, we charge again and again, until nothing separates us - and it is only then that the tape reaps the scars and secrets that have been dragging their feet in the shade of the intense light
As the night fell, I felt steps outside the door of the studio: The stranger, with a hard brow and the skin burnt from the sun. He brought a story, dragging her by her hair and landed her by my feet. And I, who in this, am just a reflection of the voice, I sat me down and the end of the room, watching this the strange spectacle: He carved his teeth on the back of winter ...
But today we were not alone in this vessel. The chorus, drunk as well, was hiding for several days between the foam of the waves – he waited until the last breath, and then stormed the boat…
Pirates… What a sweet vigil.
“I’m going to tell you a story that will make you cry”
In most cases, we do not miss wings, much less the ground under our feet - we have enough of that to spare. The lack is only of propulsion space: then, instead of wings, we only have feathers and the dreams we lose.
Today we were more than three sailing the drunken boa. With bloody eyes, and fingers carved on the feet of the orchids born in silence, we faced the ice where the genesis of the melody crystallized. We had already chased her until we cornered her between the wounds of our fingers and the whip of the strings that couldn’t hold the tension. Now, we charge again and again, until nothing separates us - and it is only then that the tape reaps the scars and secrets that have been dragging their feet in the shade of the intense light
As the night fell, I felt steps outside the door of the studio: The stranger, with a hard brow and the skin burnt from the sun. He brought a story, dragging her by her hair and landed her by my feet. And I, who in this, am just a reflection of the voice, I sat me down and the end of the room, watching this the strange spectacle: He carved his teeth on the back of winter ...
But today we were not alone in this vessel. The chorus, drunk as well, was hiding for several days between the foam of the waves – he waited until the last breath, and then stormed the boat…
Pirates… What a sweet vigil.
“I’m going to tell you a story that will make you cry”
quero fazer parte desse coro ;)
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