Entretanto o Natal já era. Aconteceu tanto em tão pouco tempo… Há dias de cicatrizes. Estes dias passados foram desses; daqueles dos quais guardamos memória… (mais um grito que se vai esconder debaixo da pele).
Após uma breve ausência, o retorno foi hoje. A porta do estúdio fecha-se e do lado de dentro nada mudou. Ouvem-se os sussurros dos instrumentos dentro das caixas que nos convidam a retornar à dança. Mas não: só o mastodonte está nú: O arqui-inimigo dos agudos, o bardo das frequências graves. Apenas o contrabaixo está fora da caixa – este ainda voltará a cantar para o microfone num dia destes. Ficou lá no canto a olhar de soslaio para a porta a ver se o jorri também vinha com ar de quem vinha ao passito de dança. Hoje não…
Não que o estúdio tenha estado vazio este tempo todo. A nossa presença invisível esteve cá: o “luvinhas de lã” (Miro) já anda a cozinhar os ingredientes musicais que cá ficaram.
Os instrumentos não lhe sussurram, porque os murmúrios são abafados pelos gritos que já ecoam nas colunas.
E então eu e o jorri lá estivemos a petiscar alguns dos preparos do Miro.
Mas o que nos trouxe aqui foram assuntos de coelho, mas sem Jack não há coelho e o coelho esqueceu-se de trazer o Jack. Ao menos havia o Johnny, que assim sempre se vai a andar.
Do outro lado do vidro, agora que aproveitámos para tirar da sala de gravação todos os nossos amiguinhos, quedaram-se apenas dois candeeiros, sombras de sobra e letras sem fim...
Sem dar por ela já adiantámos um bom acervo de vozes.
Hoje os convidados foram: a minha voz, a minha voz mais grave, a minha voz mais aguda, a minha voz mais estranha, a minha voz ainda mais estranha, e ainda a minha voz mesmo muito estranha que tem sempre três conclusões:
a) o miro e o jorri a rir do outro lado do vidro e eu a debitar-lhes alguns impropérios que nem tocam na fita.
b) Depois de contas feitas e poeira assente alguém vai dizer mais tarde à Susana que a voz dela estava muito bem naquela música, mas que se devia ouvir mais. E que depois a Susana vai dizer “foi um bom momento foi, tentámos dar o nosso melhor” (e com esta ambiguidade, ainda consegue ganhar reforço nos créditos vocais... eu compreendo. Sabe Deus o trabalho que me deu conquistar créditos nas percussões.)
c) Perguntarem-nos “onde foram encontrar esse coro? Eram todos marinheiros?”
No final da jornada fechámos outra vez a porta e fomos enfrentar os zero graus da rua. Depois de amanhã já cá volto para deixar mais umas cicatrizes na fita. Amanhã o jorri vem para cá auxiliar o Miro nos condimentos. Godspeed boys...
João Rui
Após uma breve ausência, o retorno foi hoje. A porta do estúdio fecha-se e do lado de dentro nada mudou. Ouvem-se os sussurros dos instrumentos dentro das caixas que nos convidam a retornar à dança. Mas não: só o mastodonte está nú: O arqui-inimigo dos agudos, o bardo das frequências graves. Apenas o contrabaixo está fora da caixa – este ainda voltará a cantar para o microfone num dia destes. Ficou lá no canto a olhar de soslaio para a porta a ver se o jorri também vinha com ar de quem vinha ao passito de dança. Hoje não…
Não que o estúdio tenha estado vazio este tempo todo. A nossa presença invisível esteve cá: o “luvinhas de lã” (Miro) já anda a cozinhar os ingredientes musicais que cá ficaram.
Os instrumentos não lhe sussurram, porque os murmúrios são abafados pelos gritos que já ecoam nas colunas.
E então eu e o jorri lá estivemos a petiscar alguns dos preparos do Miro.
Mas o que nos trouxe aqui foram assuntos de coelho, mas sem Jack não há coelho e o coelho esqueceu-se de trazer o Jack. Ao menos havia o Johnny, que assim sempre se vai a andar.
Do outro lado do vidro, agora que aproveitámos para tirar da sala de gravação todos os nossos amiguinhos, quedaram-se apenas dois candeeiros, sombras de sobra e letras sem fim...
Sem dar por ela já adiantámos um bom acervo de vozes.
Hoje os convidados foram: a minha voz, a minha voz mais grave, a minha voz mais aguda, a minha voz mais estranha, a minha voz ainda mais estranha, e ainda a minha voz mesmo muito estranha que tem sempre três conclusões:
a) o miro e o jorri a rir do outro lado do vidro e eu a debitar-lhes alguns impropérios que nem tocam na fita.
b) Depois de contas feitas e poeira assente alguém vai dizer mais tarde à Susana que a voz dela estava muito bem naquela música, mas que se devia ouvir mais. E que depois a Susana vai dizer “foi um bom momento foi, tentámos dar o nosso melhor” (e com esta ambiguidade, ainda consegue ganhar reforço nos créditos vocais... eu compreendo. Sabe Deus o trabalho que me deu conquistar créditos nas percussões.)
c) Perguntarem-nos “onde foram encontrar esse coro? Eram todos marinheiros?”
No final da jornada fechámos outra vez a porta e fomos enfrentar os zero graus da rua. Depois de amanhã já cá volto para deixar mais umas cicatrizes na fita. Amanhã o jorri vem para cá auxiliar o Miro nos condimentos. Godspeed boys...
João Rui
-------
The voice that left and to this place will return
in the mean time, Christmas is gone. So much happened in such little time.There are scars days.
These past days were of these; those of which we keep memory… (Another scream that will hide underneath the skin).
After a brief absence, the return was today. The door to the studio closes and inside nothing changed. One hears the whispers of the instruments inside the boxes, inviting us to return to the dance.
But no: only the mastodon is naked: The arch-enemy of the treble, the bard of the low frequencies. Only the Upright Bass is outside the box – This one will return to sing to the microphone one of these days. So he stood from the corner squinting at the door ajar to see if Jorri came with his dancing shoes. Not today...
Not that the studio has been empty all this time. Our presence here was invisible: the “wool mittens"(Miro) has already been cooking the ingredients here that music remained. The instruments did not whisper to him, because the murmurs are muffled by the screams echoing from the speakers.
So, I and Jorri were there snacking Miro’s preparations.
But what brought us here were matters of rabbit, but without Jack, there’s no rabbit and the rabbit forgot to bring Jack. At least there was some Johnny; at least we can keep walking.
From the other side of the glass, we took the chance clear the room of all our little friends, all but two lamps, shades and lyrics without end ...
Unconsciously, we’ve already recorded a good collection of voices.
Today the guests were: my voice, my lower voice, my sharper voice, my strange voice, my even more strange voice, and yet my really, really strange voice, so that whence I use it three conclusions are always possible:
a) Jorri and Miro breaking into laughter from the other side of the glass and I charging them with some foul language that will surely will not be committed to tape
b) After accounts made and the dust settled, later, someone will tell Susana that her voice was fine in that music, but it should be louder. And after that, Susana will say: "it was a good time, yes it was; we tried to give our best" (and with this ambiguity, she will still earn some good vocal credits... I understand, god knows the hard work I had earning some percussion credits in the recordings)
c) People will ask us "where they you find this chorus? Were they were all sailors?"
At the end of the day, we closed the door again and we went out to face the zero degrees of the street. After tomorrow I’ll return to leave some more scars for the tape.
Tomorrow jorri will come here to help Miro with the condiments. Godspeed boys…
in the mean time, Christmas is gone. So much happened in such little time.There are scars days.
These past days were of these; those of which we keep memory… (Another scream that will hide underneath the skin).
After a brief absence, the return was today. The door to the studio closes and inside nothing changed. One hears the whispers of the instruments inside the boxes, inviting us to return to the dance.
But no: only the mastodon is naked: The arch-enemy of the treble, the bard of the low frequencies. Only the Upright Bass is outside the box – This one will return to sing to the microphone one of these days. So he stood from the corner squinting at the door ajar to see if Jorri came with his dancing shoes. Not today...
Not that the studio has been empty all this time. Our presence here was invisible: the “wool mittens"(Miro) has already been cooking the ingredients here that music remained. The instruments did not whisper to him, because the murmurs are muffled by the screams echoing from the speakers.
So, I and Jorri were there snacking Miro’s preparations.
But what brought us here were matters of rabbit, but without Jack, there’s no rabbit and the rabbit forgot to bring Jack. At least there was some Johnny; at least we can keep walking.
From the other side of the glass, we took the chance clear the room of all our little friends, all but two lamps, shades and lyrics without end ...
Unconsciously, we’ve already recorded a good collection of voices.
Today the guests were: my voice, my lower voice, my sharper voice, my strange voice, my even more strange voice, and yet my really, really strange voice, so that whence I use it three conclusions are always possible:
a) Jorri and Miro breaking into laughter from the other side of the glass and I charging them with some foul language that will surely will not be committed to tape
b) After accounts made and the dust settled, later, someone will tell Susana that her voice was fine in that music, but it should be louder. And after that, Susana will say: "it was a good time, yes it was; we tried to give our best" (and with this ambiguity, she will still earn some good vocal credits... I understand, god knows the hard work I had earning some percussion credits in the recordings)
c) People will ask us "where they you find this chorus? Were they were all sailors?"
At the end of the day, we closed the door again and we went out to face the zero degrees of the street. After tomorrow I’ll return to leave some more scars for the tape.
Tomorrow jorri will come here to help Miro with the condiments. Godspeed boys…
Passei por aqui para deixar votos de boa sorte e sucesso para a banda.
ResponderEliminarAbraços
como te disse, dia de vozes é dia de oferecer a alma a deus ou de vendê-la ao diabo ;)
ResponderEliminar***