maio 13, 2012

O desenho do arco [12.05.2012 Viladecáns – Espanha]


Ainda não percorremos a totalidade deste arco que desenha a estrada destas canções; mas este concerto nesta segunda casa que se tornou para nós Espanha, foi o último antes da longa caminhada de regresso às portas do mar. E não escolheria outra mesa para este banquete: rodeado de corações que completaram os nossos, a noite foi inaugurada pelas belas canções dos Partido; e antes que nos entregassem o palco, emprestámos o nosso banjo e devoção à canção “The Weight”, numa homenagem a um marinheiro que agora partiu para não voltar a regressar: Levon Helm (The Band).
Depois desta breve partilha com os Partido, chegou a hora de cravarmos as garras nas tábuas desta nossa embarcação embriagada – e que magnífica tempestade para nos acompanhar a mar alto.
E regressamos ao término do desenho do arco. Às portas de Barcelona, o céu veio despedir-se da nossa ventura desferindo violentos relâmpagos que nos alumiaram o caminho. Que fantástico banquete para nos fortalecer a armadura quebrada que nos sustenta a respiração.
João Rui

The drawing of the Arch [12.05.2012 Viladecáns – Spain] we still haven’t completed this arch that draws the road of these songs; but this concert in Spain, that has become to us a second home, was the last before the long walk back to the doors of the sea. And I would not choose another table for this feast: surrounded by the hearts that completed our own, the night was introduced with the beautiful songs of Partido; and before they handed the stage over to us, we gave the banjo and devotion to the song “The Weight”, as an homage to a sailor that now parted to never return again: Levon Helm (The Band). After this brief sharing of the stage with Partido, the hour came to cling our claws in the wooden planks of this drunken vessel – and what a magnificent storm came about to accompany us to high sea. Now we return to the finishing of the drawing of the arch. By the doors of Barcelona, the sky came to bid us farewell, throwing violent and passionate thunderbolts to light our path. What a fantastic feast to nurture the broken armor that holds our breath. João Rui

maio 12, 2012

O esqueleto de madeira [11.05.2012 Genève – Suíça]


As nuvens que ao longe clamam por chuva, não conseguem afastar de Genève estes 32º, aos quais já não estávamos habituados; e as fibras dos instrumentos vão sussurrando entre si que doravante só o suor lhes aplacará a sede.
João Rui

The wooden skeleton [11.05.2012 Genève – Switzerland] The clouds that are shouting for rain from afar, cannot move these 32º away from Genève. We were not accustomed to them by now. And the fibers of the instruments whisper among themselves that from this day forward, only sweat will quench their thirst. João Rui

maio 11, 2012

O Verão? [10.05.2012 Bern – Suíça]


O verão, finalmente decidiu visitar-nos aqui, tão longe de casa. O coração enche-se destes devaneios do sol e alimenta-se destes olhos que vieram de tão longe para escutar as canções que tínhamos para oferecer.
Obrigado por terem vindo ao encontro desta escuridão.
João Rui


The Summer? [10.05.2012 Bern - Switzerland] The summer finally decided to visit us here, so far from home. The heart is filled with these dreams of the sun and feeds itself with these eyes that have come from afar to hear the songs we had to offer. Thank you for coming to meet this darkness. João Rui

maio 10, 2012

O que se perdeu [09.05.2012 Fribourg/Lausanne – Suíça]


O que era horizonte de verde e negro foi renovado no horizonte através dos alpes que rasgam o céu onde se confundem as nuvens com a neve. Ainda não foi há demasiado tempo. Recordo-me bem desta catedral. A primeira depois de Itália. Onde compreendi que o que se perdeu não se volta mais a encontrar.
O doce abraço de Fribourg e Lausanne concedem momentâneo esquecimento do inevitável peso do tempo.
João Rui

What was lost [09/05/2012 Fribourg / Lausanne - Switzerland] What was green and black horizon was renewed through the Alps on the horizon, that tears the sky where the clouds are mixed with snow. It has not been too long. I remember well this cathedral. The first one after Italy. Where I realized that what is lost is not to be found again. The sweet embrace of Fribourg and Lausanne grant momentary forgetting of the inevitable weight of time. João Rui

maio 09, 2012

As correntes do Limmat [08.05.2012 Zürich – Suíça]


Regressamos à fronteira do rio Limmat com Zürich. Recordo-me da nossa expressão que se confundia com a corrente dos seus braços; perdidos a meio de outra partida, no desejo de permanência. E o que conheço de ti é o que me deixas levar. 
Que noite magnífica. 
Obrigado pelo silêncio e pelos aplausos e gritos das suas pausas.
João Rui


The chains of Limmat [08.05.2012 Zürich – Switzerland] We return to the border of the Limat river with Zürich. I do remember our expression that could be mistaken with the chain of his arms; lost half-way of another departure, in the desire of staying. And what I know of you is what you let me take. What a magnificent night. Thank you for the silence and the applause and screams in its pauses. João Rui

maio 08, 2012

Die letzte Deutsche Nacht [06.05.2012 Bremen – Alemanha]


Chegámos por fim ao último concerto da Alemanha. Agora, a janela onde eu aguardava os corvos das manhãs deixará de ser a mesma – ou alteram-se apenas os horizontes que de cada face se encontravam, ali onde o sonho se confundia com a noite. Partimos de coração pleno, com as oferendas de Marzipan e silêncio que nos rouba o espaço da saudade das portas do mar. Seguimos agora sem a companhia do Daniel e da Saara (Sleepwalker’s Station) que nos acompanharam durante este transe germânico. Até breve meus bravos.
João Rui

The last German night [06.05.2012 Bremen – Germany] at last we arrived at our last gig in Germany. Now, the window where I awaited the crows of the mornings will no longer be the same – or maybe what changes are only the horizons that met there, where dream could be mistaken with the night. We part with our hearts full, with the offerings of Marzipan and silence, which steal from us the space of longing from the doors of the sea. We proceed now without the company of Daniel and Saara (Sleepwalker’s Station) that followed with us in this Germanic flight. See you soon my brave ones. João Rui

maio 06, 2012

O esquecimento da manhã [05.05.2012 Quelkhorner – Alemanha]


Tenho passado ao lado das manhãs. À hora que os passos começam a rasgar as ruas, ainda nem o sonho se desvaneceu.
João Rui 


The forgetfulness of the morning [05.05.2012 Quelkhorner – Germany] I’ve walked alongside mornings.. At the time that steps begin to tear up the streets, the dream has not even faded.
João Rui

maio 05, 2012

O peso da noite [04.05.2012 Schwanewede – Alemanha]


A noite encontrou-nos a meio caminho de lado nenhum. Sussurrou-nos os segredos desta estrada – e fingiu que não a conhecíamos. E partiu como se soubesse a forma de o fazer… sem cicatrizes.
João Rui

The weight of the night [04.05.2012 Schwanewede – Germany] The night found us when we were half way to nowhere. She whispered the secrets of this road – and pretended we didn’t know her. And left as if she knew how to… without scars. João Rui

maio 04, 2012

Die Bremer Stadtmusikanten, ou a construção da identidade [03.05.2012 Hamburgo – Alemanha]


Suponho que não exista forma de me recordar da inocência que ficou para trás, junto às portas da mentira. Creio que o possível seja a memória das últimas palavras que ouvi antes de me perder: a voz da minha mãe que enredava as palavras em frases das quais mais recordo o seu timbre que o significado. E a melodia dessa infância vem agora encontrar-me aqui nesta manhã em Bremen junto à estátua de uma história antiga. 
Mas agora as suas mãos já não conseguem esconder nem as palavras duras das personagens nem a escuridão que tudo abarca: “há algo melhor do que a morte para todos nós em qualquer outro lugar”
João Rui

Die Bremer Stadtmusikanten or the construction of the identity [03.05.2012 Hamburg - Germany] I suppose there is no way to recall the innocence that was left behind the gates of the lie. I think that what is possible is the memory of the last words I heard before I lost myself: the voice of my mother who tangled words in sentences of which I recall more the tone than the meaning. And the melody of that childhood comes now to find me here in this morning of Bremen near the statue of an old story. But now her hands can no longer hide the harsh words of the characters nor the all-encompassing darkness: "there is something better than death for all of us anywhere else" João Rui

maio 03, 2012

A pintura antiga [02.05.2012 Bremen – Alemanha]


As palavras vão-se amontoando junto às portas desta casa de corvos – como velhas histórias que se esquecem ou que se vão renovando conforme a memória as escolhe recordar. Provavelmente os dias que se irão suceder aos anteriores irão desenhar outros quadros na tela que não lhes pertenceria se eu soubesse como recordar todos os dias que não quero esquecer.
João Rui

The old Painting [02.05.2012 Bremen – Germany] The words keep piling up at the gates of this house of ravens - like old stories that you forget, or that will be renewed according to how your memory chooses to remember them. Probably the days succeeding the previous will draw other pictures on the canvas that wouldn't belong to them if I knew how to remember all the days I do not want to forget. João Rui

maio 02, 2012

Crow Covered Tree [01.05.2012 Bremen – Alemanha]


"I remember I woke to find me sitting at the end of the bed
My fingers were calm and resting under my chin
My hands had been waiting to wake me from the strangest dream"

maio 01, 2012

O mar do norte [30.04.2012 Emden – Alemanha]


O mais a norte que encontrei foi o teu mar. Aguardando-me com insuspeitos laivos de Verão, estas margens receberam-nos os passos não como estrangeiros, mas como pródigos filhos, a casa enfim retornados. 
Que doce aroma que trouxe ontem este vento do norte...
João Rui


The Northern Sea [30.04.2012 Emden – Germany] In the furthest to the north, I found your sea. Awaiting me with unsuspected shades of summer, these shores received our steps not as foreigners, but as prodigals sons, at last returning home. What a sweet aroma, this northern sea did bring me… João Rui