julho 28, 2010

Despedida a Norte

Despedida das terras do mar – pelo menos das cordas que sabem sempre a maresia.
Muito mais a norte. Outra vez.
Já não me restam mais do que três ou quatro linhas nas páginas deste primeiro volume dos diários negros. Bom companheiro que regressas ao pó da estante, guarda-me mais estas palavras para a viajem.
Em Braga esperava-nos a Suely e o “Portugal Rebelde” do António Almeida: bardo das ondas Fm que se confundem com as do Douro. Trouxe-nos oferendas: a ultima rebeldia da qual também faz parte o nosso Red Pony.
Obrigado António. Esta é uma boa prenda de despedida para viajantes.
O mais a norte antes da partida.
João Rui

Farewell up to the north – The goodbye to the land of the sea - at least from the strings that taste of salt. Much further up north. Once more. I have no more than three or four lines left on the pages of this first volume of the black diaries. Good companion, now that you’re returning to the dust of the bookshelf, save these last words for me. For the journey. In Braga Suely was expecting us, as well as the "Portugal Rebelde" of Antonio Almeida: The minstrel of the Fm waves that swallow those of the Douro. He brought us offerings: his last rebellion, of which our Red Pony is also a part of. Thank you Antonio, this is a good parting gift for travelers. The further up north we’ll be, before departure. (Joao Rui)

julho 26, 2010

Onde termina A Coruña

Se demorar o olhar tempo suficiente para além desta varanda por onde se vê o mar, adivinho o fim do mundo.
Quantas braçadas serão daqui até lado nenhum?
Alcateia sem fim. Hoje os braços que aguardavam o lobo são também fonte de onde nascem outros rios.
O Luis Moro, a Lucia, o José Garcia… cada um à sua maneira tem as mãos pousadas no leme de uma estranha embarcação.
E logo aqui, tão perto do fim do mundo
João Rui

Where A Coruña ends – If I stare too long beyond this balcony from where one can see the sea, I’ll guess the end of the world. How many strokes will be from here to nowhere? An endless pack. Today, the arms that awaited the wolf are also the fountains from where other rivers are born. Luis Moro, Lucia, Pepe… each one, in his or her own fashion, have their hands resting on the rudder of a strange vessel. And here of all places, so close to the end of the world. (Joao Rui)

julho 25, 2010

Algodão doce

Ou neste caso, o dia nem sequer conheceu o seu princípio. O sol sobe calmamente as placas frias de metal do Guggenheim apenas para nos ver sair de Bilbao em direcção aos picos da Europa. A terra a rasgar as margens em direcção ao céu enquanto os pés se deleitam na bruma que fustiga as suas raízes. Em breve aqui regressaremos, mas agora é hora de ouvir os cantos do Cantábrico até às margens solitárias da Coruña.
Algodão doce. Roçar de rodas metálicas em carris de ângulos perdidos.
O meu reino por uma hora de sono.
João Rui

Cotton Candy - Or in this case, the day has not met its beginning. The sun smoothly climbs the cold steel plates of the Guggenheim only to watch us getting out of Bilbao heading towards the Picos da Europa. The land tearing the shores towards the sky while feet revel in the mist that harasses its roots.Soon we’ll return to this place, but now it is time to hear the chants of the Cantabrico to the solitary shores of a Coruña. Cotton candy. Rubbing of metal wheels on rails of lost angles. My kingdom for one hour of sleep (Joao Rui)

julho 24, 2010

Regresso a Zaragoza

Se partimos ao cair da noite do dia 21 e hoje é dia 24, então perdi dois dias. Tento lembrar-me das horas acordado, mas já me parecem tão distantes ou disformes. A catedral de Pilar à luz baça do dia e Goya tão distante que nem o pude olhar. Arturo, Javier, La casa del loco, la lata de bombillas. Uma sala cheia que aguardava o regresso do lobo com ouvidos expectantes. Inacreditável… mas antes que pudéssemos largar mão da estrada já a noite nos arrastava por entre os monegros onde se ouvia o rugir do vento que seguia os caminhos de Santiago.
Se não termino é porque o dia ainda não conheceu o fim.
João Rui

Return to Zaragoza - If we left on the 21st when night fell and today is the 24th then I lost two days. I try to remember the hours spent awake, but they seem too distant or shapeless. The Cathedral of Pilar with the light of day or Goya so distant that I could not even look at him. Arturo, Javier, La casa del loco, la lata de bombillas. A room filled with people waiting the return of the wolf with open ears. Unbelievable… but before we could let go of the road, the nigh was dragging us between the monegros where one hears the howl of the wind, following the roads of Santiago. If I don’t finish it’s because the day has not met its end. (Joao Rui)

julho 15, 2010

a Jigsaw - Dreams & Feathers (On The Road / Barcelona)

a Jigsaw
Dreams & Feathers (Live On The Road)
Parque Güell, Barcelona
Video by Marti (Grocdog) June 2010

julho 05, 2010

A outra sedução

Ao longo da costa, o suor dos corpos entrelaçava-se no reflexo do sol.
Mas as cordas seduziam-nos com outra voz.

Joao Rui

The other seduction – Along the shore, the sweat of bodies was entwined with the reflex of the sun. But the strings were seducing us with another voice. Joao Rui

julho 04, 2010

A percepção sensível

No coração do Chiado, junto à estátua do poeta que dele herdou o seu nome ouvem-se os passos e as câmaras fotográficas de quem aqui passa pela primeira vez.
Que sorte a deles: dos olhos ao encontrar estas telas pela primeira vez. Mas já falo dos meus; numa rua aqui ao lado, no Museu de Arte Contemporânea do Chiado. Sem Limites – Nadir Afonso. Caminhamos silenciosos pelas salas da galeria entre a admiração e a paixão. Desde os primeiros esboços onde nasceram as raízes da obra até aos quadros finais – e quando está o quadro terminado? Há quem diga que o segredo está em saber o momento certo de pousar o pincel. O mestre Nadir diz que para ele a Arte não tem segredos. E não tem.
Procurei o “Clérigos”, mas o mais próximo que deles cheguei foi “a ribeira”, junto ao “Vila Nova de Gaia”, diante do qual os meus dedos ficaram nervosos de poder sentir a textura das pinceladas, sabendo que não o iriam fazer. Tem que existir um limite – mas não aqui, onde de sala para sala cada um dos quadros revela segredos silenciosos. Conquistador do espaço vazio: “o que se transforma é a percepção sensível”.
Abandonamos o Chiado de olhos apaixonados e partimos para Cascais.
Hoje o Dreams & Feathers é para o Mestre Nadir Afonso.
Obrigado.
Joao Rui


The Sensitive Perception - In the heart of Chiado, by the statue of the poet that inherited his name, one hears the steps and the photographic cameras of those who are coming here for the first time. How lucky they are: the eyes, finding these canvas for the first tme. But I’m already speaking of mine, in a street nearby, in the Museum of Contemporary Art of Chiado. Without Limits – Nadir Afonso. We walk silently through the rooms of the gallery, between admiration and passion. From the early sketches where the roots of the artwork were born, to the final paintings – and when is the painting done? Some argue that the secret is to know the right moment to put down the brush. Master Nadir says that for him Art has no secrets. And it doesn’t. I searched for the “Clérigos”, but the closest I could get to them was the “A Ribeira”, by the “Vila Nova de Gaia”, in front of which my fingers stood nervous of being able to feel the texture of the painting, knowing very well that they wouldn’t. There has to be a limit – but not here, where from room to room, each of the paintings reveals silent secrets. Conqueror of the empty space: “What is transformed is the sensitive perception”. We leave Chiado to Cascais with our eyes in Love. Today, “Dreams & Feathers” is for Master Nadir Afonso. Thank you. Joao Rui

julho 03, 2010

Terras do mar

O sorriso de voltar.
O sorriso de ser aguardado.
O sorriso ao voltar.

Joao Rui
Land of the Sea - The smile of returning. The smile of being awaited. The smile while returning. Joao Rui